"É de esperar grandes sismos onde já ocorreram"
O alerta soou um minuto antes do sismo, porque só depois dos primeiros sismogramas detectarem o epicentro. O sismo que ontem abalou o Japão era "previsível", mas não foi possível prevê-lo. O paradoxo continua a dar luta aos cientistas, concordam os sismólogos contactados pelo i. Depois de tentativas de previsão e evacuação nos anos 1970, a opção apoiada pela ciência foi evitar alarmes falsos. Susana Custódio, sismóloga da estação do Instituto Geofísico da Universidade de Coimbra, nomeia três problemas: os métodos não precisos o suficiente, evacuar uma determinada região em falso pode ter efeitos tão dramáticos - em termos de perda económica e de vidas - como o próprio desastre e corre-se o risco de "descredibilizar" as autoridades.
Vários trabalhos têm reforçado a tese de que é possível prever um sismo, sobretudo os de grande dimensão. A dificuldade está em perceber os sinais exactos que indicam um sismo iminente. "Neste caso do Japão houve mais de 15 sismos com magnitude superior a 5 nos últimos dias, entre eles um de magnitude 7,2. A forma como definimos sismo precursor, sismo principal e réplica ainda é empírica", diz ao i Susana Custódio. "Só o conseguimos fazer a posteriori." A ideia de que os grandes sismos se repetem em intervalos regulares também tem lacunas, como a ausência de medições precisas até há 50 anos. Onno Oncken, especialista do Centro de Investigação em Geociências da Alemanha, revelou ao i a última tese na área, ainda sem grande fundamentação: clusters de sismos violentos, que sugerem uma correlação entre placas. "Sismos como este, o do ano passado no Chile ou o de Samatra há sete anos parecem cair neste intervalo de uma a duas décadas. Já foi possível identificar outro cluster nos anos 50 e 60 (o do Chile ou o do Alasca) e outro no início do século passado (o terramoto de São Francisco, entre outros)." Danijel Schorlemmer, geocientista da Universidade da Califórnia do Sul, é mais pragmático. "A melhor coisa a fazer é estar preparado, ter mantimentos e água para vários dias." Construir tendo em conta o risco sísmico e usar alertas precoces, mal se detectam os primeiros abalos, para desactivar infra-estruturas sensíveis como centrais nucleares são outras recomendações. Susana Custódio também aposta no lado pedagógico: pequenos e grandes sismos servem para alertar a população que tende a esquecer-se das regras básicas. "Se este sismo fosse em Portugal as consequências seriam muito maiores." E o risco existe: "Em Portugal temos falhas de todos os tipos", diz a sismóloga. Schorlemmer resume: "Não conseguimos medir quando uma falha está ''pronta''. Ainda assim, em todos os sítios onde este tipo de eventos já foram observados, é de esperar que voltem a acontecer. Só não sabemos quando." M. F. R.
Via Ionline