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Um olhar sobre o Mundo

Porque há muito para ver... e claro, muito para contar

Porque há muito para ver... e claro, muito para contar

Um olhar sobre o Mundo

12
Jun10

Museu do Brinquedo

olhar para o mundo

Museu do brinquedo

 

A história do Museu dos Brinquedos fez--se de forma natural: entre os adultos que recordavam a infância e as crianças que sonhavam com os momentos especiais dos outros. Era uma vez um menino chamado João que, como todas as crianças, gostava de brincar. Mas, ao contrário da maior parte das crianças, tinha cuidado para não estragar os brinquedos. E eles foram-se amontoando no seu quarto e na sua vida. Quando fez 14 anos começou a sua colecção, quase sem dar por isso, com os brinquedos que lhe iam oferecendo. Aos seus acrescentou outros, pertencentes aos pais e outros familiares. Um dia o João contou-os e eram mais de 20 mil. Entre os eleitos escolhidos, tocados e protegidos, neste verdadeiro investimento afectivo, encontravam-se bonecas e casinhas de vários andares, locomotivas, fogões e telefones, galos de madeira, peixes de folha com rodas, arcas de Noé de madeira, ursos de peluche, soldadinhos de chumbo, automóveis descapotáveis de baquelite e motas com sidecar, entre muitos outros. 

Em 1987 foi criada a Fundação Arbués Moreira (apelido do menino chamado João), à qual foi legada toda a colecção. Dois anos mais tarde, a Câmara Municipal de Sintra cedeu um espaço que permitiu a criação do Museu do Brinquedo de Sintra no centro histórico da vila, no antigo quartel de bombeiros, remodelado para o efeito, com uma área de 1000 m2. "Ao todo, neste momento, são 40 mil peças que contam a história do homem através do brinquedo, porque os brinquedos reflectem a época em que foram feitos e quem os manuseou", diz Ana Arbués Moreira, a directora do museu. O sonho do seu marido, o coleccionador João Arbués Moreira, "sempre foi entender a história do homem através do brinquedo e as pessoas achavam estranho um homem coleccionar bonecas, casinhas, panelas, ferros de engomar e não apenas soldadinhos e carros". 

As crianças que visitam o Museu do Brinquedo têm a oportunidade de ver como eram os brinquedos com que os seus pais e avós brincavam: "Temos em média entre 4 e 5 mil visitantes por mês, metade crianças, metade adultos. Acontece muito os miúdos virem com a escola e depois pedirem aos pais ou aos avós que voltem ao fim-de-semana", explica Ana Arbués Moreira. Neste momento "há uma nova exposição temporária, dedicada aos meios de transporte, onde se podem ver carros de pedais, trotinetas, motas, carros de bombeiros e da polícia, barcos, aviões e até um comboio da Marklin, que poderá ser visto até Outubro".

Pelos corredores do museu há quem diga que, quando não está ninguém por perto a olhar, eles ganham vida e também se mexem como as pessoas, com vontade própria. As bonecas pensam como se fossem meninas e os soldadinhos têm corações maiores que eles próprios. Mas só quando não está ninguém a olhar: é assim que os brinquedos brincam connosco.

Museu do Brinquedo. 

Morada: Rua Visconde Monserrate, 2710-591 Sintra. Tel.: 219 106 016; 

Horário: de terça a domingo (incluindo feriados) das 10H às 18H, com última entrada às 17h30 

Bilhetes de adulto: 4€; de criança (dos 3 aos 16 anos); 2€; de estudante: 2€; de terceira idade (mais de 65 anos): 2€

 

Via ionline

16
Mar10

Professor quis deixar as queixas em acta. O documento desapareceu

olhar para o mundo

Queixas do professor que se suicidou desapareceram

 

No dia 27 de Janeiro, o professor de música da Escola Básica 2+3 de Fitares, em Sintra, fez mais um pedido de ajuda. O último antes do suicídio. Na reunião do grupo da sua disciplina, L. V. C. alertou os colegas para a sua dificuldade em dar aulas a uma turma do 9º ano devido à indisciplina de alguns alunos. O relato deveria constar na acta, mas o professor de música - que foi destacado como o secretário daquela reunião -, morreu antes de redigir o documento. Após a sua morte, a tarefa foi delegada a outra colega que escreveu o relatório, mas terá omitido a queixa do docente.


Agora, são os outros professores que também estiveram presentes na reunião a exigir uma rectificação da acta. Querem que no documento seja incluída a queixa do professor de música que se atirou da Ponte 25 de Abril na manhã de 9 de Fevereiro. Querem que a Direcção Regional de Educação de Lisboa tenha acesso a toda informação sobre este caso no âmbito do inquérito instaurado na sequência da notícia publicada no i. E, portanto, pediram à direcção da escola uma reunião extraordinária entre o grupo disciplinar com um único ponto na agenda de trabalhos: rectificar a acta. 

A directora do agrupamento escolar de Fitares, porém, terá dito aos docentes que nenhuma alteração ao relatório poderia ser feita enquanto a escola não receber a visita do instrutor da Inspecção-Geral de Educação. Ontem, logo pela manhã, os professores tentaram consultar a acta. O documento, contudo, terá desaparecido da sala dos professores. Os dois últimos relatórios das reuniões entre o grupo disciplinar de L. V. C. - datados de 27 de Janeiro e 3 de Março - já não estarão arquivados no dossiê do departamento de música.

Na acta que agora se encontra em parte incerta estará quase tudo o que foi discutido na penúltima reunião dos professores de Educação Musical da Escola Básica 2+3 de Fitares. Está a discussão sobre as iniciativas a tomar para assinalar o centenário da República; estão também as medidas a tomar para preparar a visita de uma orquestra de música ao estabelecimento de ensino. 

Só falta a queixa do professor de música que terá desabafado que dar aulas a uma turma do 9º ano estaria a "tornar-se impossível". Após a confissão, um dos colegas terá perguntado a L. V. C. se entregou as participações disciplinares ao director de turma e terá obtido uma resposta afirmativa. Ao todo, explicou L. V. C., entregou sete participações de ocorrência disciplinar. Resta agora encontrar os documentos que comprovem isso.
 

Alertas. Tanto a Direcção Regional de Educação de Lisboa (DREL) como a Inspecção-Geral de Educação já teriam sido alertados para o o suicídio do professor de música, antes do caso ser divulgado na imprensa. O i apurou que no dia 4 de Março, foi enviado à DREL um e-mail dirigido ao director regional José Joaquim Leitão dando conta de alegadas irregularidades que terão ocorrido no agrupamento escolar de Fitares. Entre os episódios relatados, constará também o caso do docente que se atirou ao Tejo. No dia 10 de Março, foi a vez da Inspecção-Geral de Educação (IGE) ter recebido outro e-mail, desta vez com o único propósito de denunciar o suicídio do professor de música. Como resposta, a IGE terá informado que reenviou a queixa à directora do agrupamento escolar e solicitado mais informação sobre o caso. O Ministério da Educação não conseguiu confirmar estas informações até à hora de fecho desta edição.

Via ionline

12
Mar10

Quando a morte é a solução...

olhar para o mundo

 

Bullying, a morte não pdoe ser a solução

 

 

Noticia e imagem do Público

 

Na véspera das aulas com aquela turma, Luís ficava nervoso. Isolava-se no quarto e desejava que o amanhã não chegasse. Não queria voltar a ouvir que era um "careca", um "gordo" ou um "cão". Não queria que o burburinho constante do 9.º B e as atitudes provocatórias de alguns alunos continuassem a fazê-lo sentir aquela angústia. O peso no peito. O sufocante nó na garganta. Luís não era um aluno. Tinha 51 anos e era professor de Música na Escola Básica 2.3 de Fitares, em Rio de Mouro, Sintra. Era. Na semana antes do Carnaval, decidiu que não voltaria a ser enxovalhado. Pegou no carro e parou na Ponte 25 de Abril. Na manhã do dia 9 de Fevereiro, atirou-se ao rio.

 

Luís não avisou ninguém do acto radical. Mas radicalizou, segundo a família e os colegas, os apelos junto da direcção da escola para que resolvesse a indisciplina, em particular naquela turma. Fez várias participações que não terão tido seguimento. O PÚBLICO tentou ouvir a directora da escola, que justificou que só presta declarações mediante autorização da Direcção Regional de Educação de Lisboa. Fizemos o pedido e não recebemos resposta. Contudo, foi possível apurar que a Inspecção-Geral da Educação tem participações do alegado incumprimento da legislação sobre questões disciplinares por parte da direcção daquela escola.

Personalidade frágil
Na escola, impera o silêncio e os funcionários fazem um leve encolher de ombros. Alguns, sob anonimato, asseguram, tal como a família, que Luís era alvo de bullying e estava "profundamente desesperado e deprimido". A irmã de Luís, também professora, admite que o irmão era "uma pessoa complicada, frágil e reservada", mas assevera que era "um professor competente", cujos apelos "a escola ignorou". "Apenas lhe propuseram assistir a aulas de colegas para aprender a lidar com as provocações", diz.

A irmã descreve a profunda tristeza do professor nos últimos meses, ao longo dos quais "desabafou muito" com os pais, com quem ainda vivia. Nunca deu indícios do acto. Foram encontrados, depois da morte, no seu computador. "Se o meu destino é sofrer dando aulas a alunos que não me respeitam e me põem fora de mim - e não tendo eu outras fontes de rendimento -, a única solução apaziguadora será o suicídio." A frase encontrada não deixa dúvidas. Há vários desabafos escritos em alturas diferentes que convivem lado a lado com as participações sobre alguns alunos.

Luís somava à Música uma licenciatura em Sociologia e chegou a ser jornalista durante alguns anos. Era também cronista no Boletim Actual da Câmara de Oeiras, onde, no ano passado, dedicou algumas palavras aos problemas das escolas: "O clima de indisciplina nas escolas está a tornar-se insustentável. E ainda há quem culpe os professores, por falta de autoridade. Essas pessoas não fazem a mínima ideia do ambiente que se vive numa escola. Aconselho-as a verem o filme A Turma". No último boletim, o autarca Isaltino Morais dedicou-lhe um texto onde recorda a "perspicácia e apurado sentido crítico" de Luís.

Os alunos dividem-se sobre o professor, mas concordam que "era muito calado" e que "não convivia muito nem com alunos nem com professores". Uns recordam com saudade as aulas onde puderam tocar instrumentos e ver filmes relacionados com música e dança. Outros insistem que "ele era estranho" e que "não impunha respeito". Mas não negam que eram "mal comportados". "Portava-me sempre mal, mas não era por ser ele. Somos assim em todas as aulas, é da idade", reconheceu um dos alunos que tiveram mais participações por indisciplina.

Outra aluna, a única que, no fim das aulas, ficava para trás para conhecer melhor o silêncio de Luís, lamenta a partida "prematura" e arrepende-se de não ter ficado mais tempo a conversar com ele. "Tive medo do que as pessoas podiam dizer se me aproximasse. Sinto-me muito mal por não ter ajudado mais. Uma vez arrancámos-lhe um sorriso. Quando sorria era outra pessoa."

22
Jan10

Quentes e bons: dez bares ideais para o Inverno

olhar para o mundo

 

 

10 bares quentes e bons para o Inverno

 

01 Marrakesh

Só o nome já traz a promessa de um calor vindo de terras longínquas. Dentro deste restaurante e lounge bar situado no Porto, a primeira impressão confirma-se. Enormes almofadas brancas e mesas baixas convidam a sentar e a aninhar neste espaço que parece ter sido inspirado nas mil e uma noites. Enquanto as velas, a música oriental e as shishas compõem o resto do ambiente, os chás e as tagines confortam o estômago. 

02 Mezzanine do Bairro Alto Hotel
Por cima da animação do bar do hotel, respiram-se ambientes mais serenos. Trocam-se os deliciosos cocktails por uma chávena de chá e as batidas do DJ de serviço pelo prazer do silêncio. Na mezzanine há sofás confortáveis onde se pode passar uma tarde inteira a preguiçar, a ler jornais, livros e revistas ou a ver televisão com vista para a Praça Luís de Camões. A lareira é a companheira perfeita para os dias de Inverno na capital.

03 Metro e Meio 
Deve o seu nome à altura da porta de entrada, que obriga todos os visitantes de estatura média a baixarem-se para entrar; um entrave que nunca o foi e se tornou a imagem de marca deste espaço de Lisboa. Há mais de 30 anos que assim: a mesma medida, o mesmo piano, o mesmo conceito. Lá dentro, o bar (que também é restaurante durante o dia) está dividido em vários espaços, uma espécie de labirinto cheio de recantos. É só escolher uma poltrona e arranjar a posição mais confortável para uma longa noite de tertúlia. 

04 Galeria Bar Santa Clara 
Em Coimbra conhecem-no pela esplanada, com vista para o Mondego e para a cidade. Mas no Inverno, o bar da galeria Santa Clara é igualmente acolhedor. Não tem lareira, é verdade, mas quase. É uma salamandra que aquece os visitantes nas noites mais frias de Inverno, numa das salas maiores. Nas outras, mais intimistas, o ambiente é ideal para encontros a dois (secretos ou não). Ou, quiçá, para reuniões conspirativas, alimentadas pelos bolos caseiros e os excelentes cocktails.

05 Casa Azul
Quem põe os olhos nesta típica casa algarvia à entrada de Cacela Velha fica de imediato com vontade de entrar e ficar. E se a casa convida, a vista deslumbra: de um lado a ria, do outro o mar, mais ao longe Espanha. Nos dias em que o sol resolve aparecer, sabe bem desfrutar da esplanada no terraço, para os outros, em que o frio marca presença, o lugar ideal para estar é na sala com lareira. Para ser perfeito só mesmo com a companhia dos sabores da Casa Azul. Prove o peixe fresco grelhado, a tagine de frango e as deliciosas sobremesas.

06 Praia da Luz
Ai, o Inverno. E a praia no Inverno... o mar revolto, a areia molhada, o vento gelado e a zumbir nas rochas. O cenário não é agradável e indica tudo menos conforto. A não ser que... a não ser que estejamos dentro do Bar Esplanada Praia da Luz, no Porto, uma das mais conhecidas da Foz e que consegue conciliar, de forma perfeita, uma vista sobre o mar revolto e um ambiente aconchegante, sobretudo se envolver uma manta sobre os joelhos, um chocolate quente nas mãos e um sofá na sala panorâmica junto à lareira.

07 Casa do Livro
Quando uma livraria se transforma num bar que faz questão de manter o espírito da casa, o resultado só podia ser bom. É o que acontece na Casa do Livro, que fica na Baixa do Porto e consegue juntar cocktails e vinhos a livros que estão por todo o lado, espalhados nas várias salas do bar ou guardados em armários. Decorado com um gosto clássico chique, de cadeirões retorcidos, espelhos dourados e até um piano, a Casa do Livro conta ainda com uma programação habitual que inclui concertos, DJ convidados e até peças de teatro. 

08 Casa do Cerro 
Bares de Inverno no Algarve? Sim, eles existem. Como este Casa do Cerro, um espaço de inspiração marroquina, que foge a tudo que se espera de um bar algarvio. No bom sentido. Cores quentes, ambiente tranquilo e uma esplanada que no Inverno é fechada e aquecida. Os cocktails da casa valem um desvio do conceito norte-africano, mas se se quiser manter fiel às raízes do bar, escolha um dos chás da carta. E desfrute esparramado no primeiro pufe que encontrar livre.

09 Colares Velho
Em tempos foi uma taberna e uma mercearia, até se transformar, nos últimos 30 anos, num dos restaurantes mais conceituados e clássicos da zona de Sintra. Desde o ano passado com nova gerência, o Colares Velho é mais do que um restaurante. É também um salão de chá com duas salas intimistas e confortáveis, uma delas equipada com lareira e perfeita para saborear um café ou um chá acompanhado de um scone ou de uma fatia de cheesecake caseiro.

10 Foxtrot
No Foxtrot não se dança foxtrot nem qualquer outro estilo, mas pode comer--se um bife fora de horas, beber um whisky ou um cocktail, ver futebol num ecrã gigante, jogar snooker ou até gamão. E claro, pode não se fazer absolutamente nada a não ser ficar numa das poltronas a conversar e a ouvir música. Aberto inicialmente por Luís Pinto Coelho, proprietário do mítico Pavilhão Chinês, o Foxtrot é uma réplica lisboeta do tradicional pub inglês e está cheio de recantos confortáveis. No Inverno, a sala mais concorrida - e há quatro diferentes - só podia ser mesmo a da lareira.

 

Via ionline

10
Jan10

O frio nas escolas em Portugal (Era:Ministério nas escolas de Sintra)

olhar para o mundo

O frio nas escolas portuguesas

 

Ora, coisinha para meter o seu quê de piada é tentar dar uma aula com 3 graus positivos numa sala sem qualquer tipo de aquecimento (se pusermos de parte o aquecimento humano).

Cada sala tem um computador e um projector novo, oferta do Ministério, que é coisa que faz tanta falta como uma boa dose de peste negra no seio de uma colónia de formigas vermelhas. Temos pessoal a instalar cabos e calhas técnicas por toda a escola, extensões e telas, quadros interactivos e sei lá o que mais nos reserva o futuro. Os alunos agradecem. Principalmente aquele que está sentado à minha frente e que não me vê porque tem um monitor a tapar-lhe a visão.
E aquecedores, ou ar condicionado? Uma lareira? Eu já ficava contente com um bidon de óleo com um lixozinho a arder, que até nem contrastava tanto com o cenário desta escola. Como é que esperam que um aluno queira saber do que é que o professor (aquele gajo que está lá na frente com tanta roupa que parece o boneco da Michelin) está a falar, quando nem sequer consegue aquecer o cérebro, quanto mais os dedos para pegar na caneta e escrever alguma coisa?
A única vantagem do frio é que a taxa de criminalidade baixou 90%. Agora só os putos com luvas térmicas é que ainda conseguem pegar na navalha para estorquir alguma coisa aos colegas. e toda a gente sabe que as luvas térmicas são caras.
Três vivas para o Ministério ...hip hip...hipotermia!!!
 

 

22
Nov09

Nos bastidores da pornografia: viagra, jogos de cartas e romances

olhar para o mundo

 

Nos bastidores da pornografia, Viagra e gel....

 

9h30 da manhã. Pelos caminhos da Serra de Sintra, perdidos entre o nevoeiro que naquela sexta-feira cobriu praticamente toda a encosta, conseguimos finalmente encontrar a moradia. O portão está entreaberto, mas por pouco tempo. "Temos de ser discretos", avisa-nos um elemento da produção que nos aguardava, apesar de não haver praticamente vizinhança e da estrada estar deserta. Cá fora, no parque de estacionamento, vislumbramos alguns elementos da equipa, que preparam o pequeno-almoço na cozinha. Livrámo-nos do primeiro mito: não é com torradas, tostas-mistas e café que os actores garantem a performance, mas graças aos famosos comprimidos azuis e gel de potência masculina, cujas embalagens convivem harmoniosamente na banca da cozinha entre sacos de compras, paletes de leite e detergentes da loiça. O dia está a começar e adivinha-se longo. "Rápido, temos uma agenda a cumprir", grita o realizador Max Cortez. "Onde andam as mulheres?"


A esta hora, Carla Cox e Daria Glower, duas celebridades porno da República Checa, ainda estão no andar de cima. Dão os últimos retoques na maquilhagem, uma na casa de banho, outra no quarto. Facilmente se percebe que estamos numa casa habitualmente desabitada. As paredes estão despidas, os móveis também, e no chão acumulam-se peças de roupa e sapatos - de saltos vertiginosos, claro. Embora ali o sexo seja sobretudo um negócio, três das seis suites da casa estão ocupadas por outros tantos actores (três mulheres e três homens), divididos por casais. Essa parte da casa, no entanto, não é permitida fotografar: "é a nossa vida privada", dizem. 

Cá em baixo, na sala onde vão decorrer as filmagens, as duas actrizes checas são aguardadas pelo realizador, um produtor e dois assistentes, que vão deitando o olho ao plano de trabalhos. O cenário da produção é uma moradia de luxo em Sintra, arrendada à semana por mais de mil euros. Tem piscina, campo de vólei e uma vista privilegiada sobre a serra. É ali que a equipa vive durante o tempo de rodagem daquele que será um dos primeiros filmes pornográficos não amadores feito em Portugal. Durante o dia, o ritmo de trabalho é alucinante: ao todo, a película inclui 35 cenas, feitas em dez dias. À noite, o merecido descanso: enquanto uns se divertem a jogar cartas Uno, outros vêem televisão - e há quem se distraia com uma revista cor-de-rosa ou com um livro. 

Entre cenas O frio da rua contrasta com o ar abafado que se respira na sala do piso térreo da casa, onde é filmada a primeira cena do dia. Que o diga Carla Cox e a sua compatriota Daria Glower, expostas ao calor dos dois projectores que incidem directamente sobre elas. Sempre que o realizador corta a cena, as duas apressam-se a sair do set e a sacar de lenços de papel para limpar o suor e engolir uma bebida energética de cor azul. Mais tarde, os lenços seriam utilizados para eliminar os vestígios deixados por Marcel, o protagonista da primeira cena com as duas mulheres. 

Não há qualquer guião ou diálogo. A velha fórmula retro-porno do canalizador que visita a senhora em apuros domésticos já só entra no imaginário dos tempos da revista "Gina" e da era pré-internet. Hoje, explica Max Cortez, "as cenas são feitas para a internet. E não passa disso, de uma cena de sexo. Acho que o filme com principio meio e fim, com argumento, teve o seu momento. Actualmente, não faz sentido fazer uma aproximação ao cinema convencional, nem é viável". É por isso que o realizador recusa chamar 'cinema' a um filme porno. "Porno é porno, nada mais." 

Antes da cena começar, Max dá breves indicações às duas actrizes. Nada que ambas não dispensassem: Carla tem 25 anos e mais de cinquenta filmes no currículo, Daria é mais velha e experiente: 28 anos e quase 100 películas. São elas que abrem o plano e fazem uma espécie de introdução, enquanto Marcel aguarda num canto a sua entrada em cena. Só o fará quando o realizador ordenar, mas até lá convém manter a "postura".

Enquanto isso, sentados numa mesa fora do enquadramento, o produtor e dois assistentes vão trabalhando ao computador. Trocam mails, vêem cenas gravadas nos dias anteriores, actualizam páginas da net, praticamente indiferentes ao que se desenrola a menos de cinco metros de distância. Apesar do calor da cena e da banda sonora de gemidos que a acompanha, facilmente se percebe que se trata de encenação. "É tudo fingido", explica o produtor Carlos Ferreira. "Quando o realizador manda cortar, fica tudo quieto, como se nada fosse." Mas sempre que a luz vermelha da câmara está acesa, Carla e Daria fazem permanentes investidas de sedução à objectiva, orientadas pelos sinais do realizador para mudarem de posição. A entrada em cena de Marcel não carece de qualquer tipo de introdução ou diálogo: pura e simplesmente aparece. Primeiro vestido, três minutos depois apenas de gravata agarrada ao pescoço. 

A cena é olhada de perto pelos outros actores que se vão acotovelando à porta da sala e trocando segredos. Há quem tenha acabado de saltar da cama, olheiras imponentes nos olhos e fato de treino vestido. Um dos actores, Steve, olha-nos de soslaio na cozinha e confessa-se "cansado". Está ali enfiado há cinco dias, a viver uma espécie de Big Brother pornográfico. Pouco depois daquela curta conversa, preparar-se-ia para filmar mais uma cena - e perceberíamos finalmente o que ele queria dizer com o sentir-se "cansado". Nada que não se resolvesse. 

Quando a cena do trio chega finalmente ao fim, passa-se à fase das fotografias. O DVD, explica Carlos Ferreira, "inclui imagens de cada um dos shots". Daí que seja necessário recuperar as posições filmadas. "Ou então estamos sempre a interromper", atalha Max Cortez. Não foi o caso: a cena foi feita ao primeiro take e sem cortes. O momento alto, comenta um dos assistentes de realização, é o "cum shot". Ou seja, quando o actor atinge o clímax. E é aqui que a rodagem de um filme pornográfico assume contornos surreais: à ordem para cortar, segue-se a intervenção imediata do fotógrafo de serviço, que desata a disparar flashadas sobre o trio. Depois, encenam cada uma das posições para a fotografia, entre os risos delas e a evidente dificuldade e inibição do actor em dar seguimento ao trabalho.

Filme interactivo Em menos de um mês, parte desta equipa veio a Portugal duas vezes. Primeiro para o Salão Erótico de Lisboa, agora para realizarem esta produção portuguesa, que de português tem apenas a empresa que a patrocina. A Hotgold é a proprietária do primeiro canal nacional para adultos (disponível para assinatura mensal numa das operadoras de televisão por cabo). O facto de o elenco ser todo estrangeiro - duas mulheres e dois homens da República Checa, um alemão, um espanhol e uma colombiana - tem a ver com questões orçamentais. "Fica mais barato", garante o produtor português, Carlos Ferreira. Além disso, "é bastante mais complicado contratar actrizes portuguesas".

A equipa técnica incluiu, no entanto, dois elementos portugueses, responsáveis pela filmagem. "Temos uma equipa portuguesa, que está aqui a fazer uma espécie de estágio para as nossas produções futuras." O resultado dos dez dias em Sintra será um filme "interactivo" que chega às sex-shops em Janeiro de 2010. Interactivo? "Sim, será possível escolher os intervenientes e os cenários".

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