Música Portuguesa do dia:O Charlatão - Sérgio Godinho e José Mario Branco
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Letra
Numa rua de má fama
faz negócio um charlatão
vende perfumes de lama
anéis d'ouro a um tostão
enriquece o charlatão
No beco mal afamado
as mulheres não têm marido
um está preso, outro é soldado
um está morto e outro f'rido
e outro em França anda perdido
É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra
Na ruela de má fama
o charlatão vive à larga
chegam-lhe toda a semana
em camionetas de carga
rezas doces, paga amarga
No beco dos mal-fadados
os catraios passam fome
têm os dentes enterrados
no pão que ninguém mais come
os catraios passam fome
É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra
Na travessa dos defuntos
charlatões e charlatonas
discutem dos seus assuntos
repartem-s'em quatro zonas
instalados em poltronas
Pr'á rua saem toupeiras
entra o frio nos buracos
dorme a gente nas soleiras
das casas feitas em cacos
em troca d'alguns patacos
É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra
Entre a rua e o país
vai o passo dum anão
vai o rei que ninguém quis
vai o tiro dum canhão
e o trono é do charlatão
É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra
É entrar, senhorias
É entrar, senhorias
É entrar, senho...
Letra
Ah, quanto eu queria navegar
p´ra sempre a barca dos amantes
onde o que eu sei deixei de ser
onde ao que eu vou não ia dantes
Ah, quanto eu queria conseguir
trazer a barca à madrugada
e desfraldar o pano branco
na que for terra, mais amada
E que em toda a parte
o teu corpo
seja o meu porta-estandarte
plantado no seu mais fundo
posso agitar-me no vento
e mostrar a cor ao mundo
Ah, quanto eu queria navegar
p´ra sempre a barca dos amantes
onde o que eu vi me fez vogar
de rumos meus a cais errantes
Ah, quanto eu queria me espraiar
fazer a trança à calmaria
avistar terra, e não saber
se ainda o é, quando for dia
E que em toda a parte
o teu corpo
seja o meu porta-estandarte
plantado no seu mais fundo
posso agitar-me no vento
e mostrar a cor ao mundo
Letra
Foi no sulco da viagem
Já sem armas nem bagagem
Nem os brazões da equipagem
Foi ao voltar
Pátria moratória
No coração da história
Que consumiste a glória
Num jantar
Foi como se Portugal
P?ra bem e p?ra seu mal
Andasse em busca dum final
P?ra começar
Ávida violência
Reverso da inocência
Sal da inconsciência
Que há no mar
Império tão pequenino
De portulano caprino
Bolsos de sina e de sino
Em cada mão
Pátria imaginária
De concistência vária
Afirmação diária
Do teu não
As malas do portugueses
São como os olhos das rezes
Que se mastigam três vezes
Em cada chão
Cândida ignorância
Grande desimportância
Os frutos da errância
Já lá estão
Melodia 2 (solistas, depois coro adulto misto)
Ai Senhora dos Navegantes me valei
De África, do sal e do mar só eu sobrei
Foi p?ra me encontrar que amanhã já me perdi
Longe vai o tempo que eu já não estou
aqui
Ai Senhora dos Talvez-Muitos-Mais- Sinais
Socorrei estes desperdícios coloniais
Foi na noite fria que o dia me cegou
Inda agora fui, inda agora cá não estou
Ai Senhora dos Esquecidos me lembrai
O caminho que p?ra lá vem e p?ra cá vai
Etecetera e tal, portugal é nós no mar
Inda agora vim e estou longe de chegar
Ai Senhora dos Meus Iguais que eu subtraí
Foi pataca mim e não foi pataca a ti
Se é tão grande a alma na palma do meu ser
Algum dia eu vou finalmente acontecer
Melodia 3 (coro infantil + JMB)
Porque não tentar outro ponto de vista
A história dos outros quem a contará
Se qualquer colónia sem colonialista
São os que já estavam lá
Tentemos então ver a coisa ao contrário
Do ponto de vista de quem não chegou
Pois se eu fosse um preto chamado Zé Mário
Eu não era quem eu sou
Os navegadores chegaram cá a casa
E foi tudo novo p?ra eles e p?ra mim
A cruz e a espada e os olhos em brasa
Porque me trataste assim?
Não é culpa nossa se quem p?ra cá veio
Não se incomodou ao saber do horror
A história não olha a quem fica no meio
E o que foi é de quem fôr
157 seguidores
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.