Sexo na Banda desenhada
Kamasutra - Milo Manara
Existe uma linha bastante sutil entre arte erótica e sacanagem. E são poucos os quadrinistas que sabem lidar exatamente com esse divisor imaginário, ou seja, desenham e escrevem sobre erotismo em quadrinhos sem cair na pornografia.
Isso através de diversos recursos, não apenas do texto. A forma do traço, a seqüência de imagens e ainda a transição de quadrinho a quadrinho também são fundamentais para atrair os leitores.
Um dos mestres nessa arte é Milo Manara, que nos induz a um olhar diferente sobre a sexualidade. Leitura essa mais sensível e próxima do que os super-heróis dos quadrinhos comerciais.
Em recente visita ao Brasil, o quadrinista trouxe pela Conrad Editora a quarta edição do clássico "Clic". Na história, Claudia Christiani é como nos outros exemplares a bela de corpo perfeito e rosto sensual. Recatada e reprimida sexualmente, ela é novamente vítima do doutor Fez, que através de um simples aparelho desperta a sua libido a faz liberar todos os seus desejos até então escondidos.
"Os quadrinhos eróticos são bastante underground (fora do circuito comercial) e tem uma linguagem explícita. Eu adoro os livros do Manara, desde a história, o roteiro e o traço. Li quarta edição do "Clic" e gostei bastante. Acho os quadrinhos dele um tanto machistas e retratam a mulher sob a ótica dos homens, pois a heroína é submissa aos cliques do personagem", opina Marcus dos Santos.
Manara explora através dos seus desenhos de corpo sensuais personagens que se rendem a várias práticas sexuais, entre elas, o bondage, o sadismo e o voyeurismo. Através de um traço simples, e com riqueza de detalhes que impressiona muitos de seus fãs, o artista italiano explora o erotismo para mostrar o que o há de mais humano na sociedade, ao mesmo tempo mais reprimido
Quando esteve no Brasil, Manara disse durante o lançamento da sua exposição "Uma Vida Chamada Desejo", que ficou em cartaz no espaço cultural Oswald de Andrade, que os quadrinhos eróticos não têm o recurso de outras artes, com trilha sonora e movimentos, por isso precisa trazer aos seus personagens seus desejos e fantasias, como acontece em "Kamasutra", também lançado pela Conrad recentemente. Nesta obra, o enredo gira em torno das duas amigas que precisam se livrar da destruidora Kali. Para tanto elas deverão praticar todas as posições do livro milenar hindu, o Kama Sutra. Nessa safra de artistas que utilizam a beleza da nudez feminina nas tirinhas há também outro cartunista também bastante admirado. Trata-se de Robert Crumb, que veio ao Brasil esse ano para a Flip 2010 (Feira Literária Internacional de Paraty). Um dos seus mais recentes livros é "Meus problemas com as mulheres", uma obra autobiográfica que mostra várias histórias sobre a presença feminina na vida do autor, com destaque para as musas de pernas grossas, uma de suas marcas registradas. Mas a presença feminina não está somente nos desenhos, entre os artistas há também a italiana Giovanna Casotto. Suas personagens provocantes são criadas através de fotos dela mesma. A quadrinista cria os desenhos com base em fotografias que tirou nua durante o sexo. A partir dessas fotos saem mulheres maquiadas e com os pés e mãos pintados, baseadas nas pin-ups dos anos 50. Sem pudores, a também arquiteta traz para o desenho vários ângulos do próprio corpo, ilustrações bastante realistas, que podem ser vistas na segunda edição de "Giovanna" (Editora Conrad). leia também Diário Erótico Dicas de livros para esquentar o sexo O título traz dez narrativas curtas em torno da sensualidade e do fetiche, com enfermeiras, donas de casa, empregadas e assaltantes, entre outras. As personagens deixam a imaginação voar nas várias poses sexuais que desafiam a imaginação. E como mulher, a artista não traz a submissão feminina ao enredo dos quadrinhos, pelo contrário, são elas é que ditam as regras na hora do sexo. "Minhas histórias têm inspiração em meus sonhos, no que gostaria de experimentar e no que já experimentei", completa a autora.
Via Vila Mulher