O poema do verdadeiro natal
"ENTÃO E EU, TODO O MUNDO ME ESQUECEU?"
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"ENTÃO E EU, TODO O MUNDO ME ESQUECEU?"
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade, in "Os Amantes Sem Dinheiro"
Responde-me país! Terra brava! responde-me e diz-me que sim. Adorar-te, Nesse grito infinito, Ao som das guitarras de doze cordas, Que barcos amarras? E à voz das ondas soberbas, Perdida, no teu navegar, Espero no teu marulhar, O toque a noite de bruma, Acordar, Ao som do canto das sereias De cauda envolta em espuma, Roçar em mim, Brancas areias finas areias, Fados molhados, Dores marinheiras, cantadeiras... Seus homens amados, esperados, Além fronteiras, No mar galgando, terras derradeiras. Sabe Deus quanto sinto, E não consigo depor Então na caneta eu pinto Teu céu de luz magistral À vela país conquistado Luz acesa, Portugal. Na linha do horizonte Como estrada atravessada, Vejo esta terra amada, Mundo a meus pés, Cama mesa delicada. E o fado que era Severa, No verde e vermelho fatal, Foi cravo de Primavera, Que brotou em ti Portugal Caríssimo nome... Na tua bravura temperada, E no teu Sol, pele doirada, Espelhada... Perfeito és. Nas ondas cadentes, Meus pesamentos presentes, De passados , mares salgados,que agora beijam meus pés, Sem espada, Calma nação. Pura terra desbravada, pela força das marés, E em todo o amor e talento, Vou sentindo de vez em quando Os beijos dessa bandeira, Primeira, Ao vento, Todo o valor e alento, Da força de ser português. No teu escudo,saudoso Viriato, Pendido teu nome ancestral. Ao sabor da brisa que te alisa, Amo-te, Minha tera brava, semeada, Portugal.
Raquel Calvete in Poesia em Dó Menor
Via Vila forte
O CORVO
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