Declaro-as Mulher e Mulher
Helena Pires e Teresa Paixão tornaram-se esta manhã o primeiro par homossexual a casar-se em Portugal. Às nove horas em ponto bateram na porta da conservatória do registo civil da Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, e oficializaram a relação.
É hoje que entra em vigor a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo e faz todo o sentido que as duas alentejanas queiram ser as primeiras, já que estão desde 2006 a tentar celebrar o seu casamento. Dia 7 de Junho será mais uma data histórica para a comunidade gay e lésbica, mas há outras datas que se vão tornar igualmente importantes a partir de hoje.
Agosto será o mês de Abel Mota e do seu companheiro; Setembro o mês de João Paulo e do seu futuro marido. Os dois casais já estão em preparativos para a grande festa. Festa de arromba para João Paulo, que se vai casar numa quinta do Douro com fogo-de-artifício e espectáculo de transformismo; festa sem grandes alaridos para Abel Mota, que vai juntar os amigos e a família na sua casa de Gaia. Cerimónia, copo-de-água, lua-de- -mel e tudo mais a que têm agora direito. "Casamento por puro romantismo", explica Abel, professor do ensino secundário e "casamento por razões puramente práticas", esclarece João Paulo, editor do site Portugalgay.
Qualquer que seja o motivo estava mais do que na hora, avisam os dois casais. João Paulo e José Pedro (nome fictício) estão juntos há 15 anos. Abel Mota e Francisco (nome fictício) vivem em união de facto desde 2004. "Não nasci para viver sozinho e sempre quis casar-me", confidencia Abel. E, porque já perderam "demasiado tempo", começaram a preparar a cerimónia logo após a aprovação da Lei n.o 9/2010 no Parlamento, a 8 de Janeiro. Os fatos estão comprados, as alianças também, só resta mesmo ir à conservatória de Gaia para marcar o dia: "Entre a segunda e terceira semana de Agosto são as datas mais prováveis."
João Paulo e José Pedro têm muito mais em que pensar. A lista de convidados ultrapassa a centena e o casal quer uma festa com "mesa farta, música, espectáculo de transformismo e ainda fogo-de-artifício" ao cair da noite. "Visitei três quintas na zona do Douro, só nos falta tomar uma decisão", conta João Paulo.
Em todas as quintas, o portuense perguntou pelos preços de aluguer, inspeccionou o salão de festas e avaliou todos os espaços exteriores sem nunca revelar que o seu casamento será pouco convencional: "Já me perguntaram pela minha noiva, mas preferi não dizer nada." Dirá que a sua noiva é afinal um noivo no dia em que decidir qual o melhor lugar para fazer a festa. "E, nessa altura, logo se vê. Se os proprietários quiserem fazer negócio irão aceitar; se não estiverem interessados, logo se vê."
Nada impede que o casal do Porto possa ter uma boa surpresa com os empresários do Norte. Pois se até a mãe de João Paulo está "entusiasmadíssima" com o casamento do filho e já comprou o vestido para a cerimónia, tudo o resto é possível: "Estamos a falar de uma mulher que demorou dez anos a aceitar a minha homossexualidade", conta o editor do site Portugalgay.
Via Ionline