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Um olhar sobre o Mundo

Porque há muito para ver... e claro, muito para contar

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Um olhar sobre o Mundo

06
Out10

Os sete pecados da República

olhar para o mundo

1. O vazio ideológico

 

 

A república

A 4 de setembro de 1911, quando apresentou publicamente o programa do primeiro Governo constitucional, João Chagas apontava como propósitos do gabinete recém-constituído a continuação da obra iniciada pelo Governo Provisório, considerando-a a única forma de consolidar a República, transformando-a (...) no regime de conciliação entre todos os portugueses (...) votados ao renascimento da pátria. Era visível o apelo do Presidente do Ministério à unidade e coesão de todos os agrupamentos políticos, assumindo com clareza que era necessário não desiludir as classes trabalhadoras, procurando travar o descontentamento e atenuar a onda crescente de conflitualidade social herdada da Monarquia e que a República não tinha conseguido esbater.

 

A 12 de novembro de 1910, Machado Santos - herói da Rotunda - iniciara a publicação do jornal "O Intransigente", assumindo nas suas páginas uma posição crítica e descrente quanto ao rumo que se perspetivava para o país e para a República. Dois anos mais tarde, António José de Almeida e Brito Camacho fundavam, respetivamente, os partidos Republicano Evolucionista e Republicano Unionista, protagonizando as primeiras dissidências no interior do velho Partido Republicano Português.

Não tardou muito para que os próprios limites do modelo político-constitucional em que a República assentara viessem ao cimo, revelando, também, por entre outros matizes, o vazio ideológico de parte dos seus líderes. Entretanto, era cada vez mais notória a frustração com que os partidos conservadores - reduzidos a uma fraca expressão eleitoral - passaram a encarar o golpismo militar como o instrumento mais eficaz para fazer face a um Partido Democrático que, através de uma rede de caciques espalhada por todo o país, controlava, diretamente, grande parte dos atos eleitorais.

2. A alienação do apoio das classes mais baixas

 

No seu conjunto, as classes mais humildes estavam convencidas de que a implantação da República se traduziria imediatamente numa melhoria da situação económica nacional, o que, a prazo, acabaria por se refletir favoravelmente no seu nível de vida. Entretanto, e uma vez que nenhuma mudança significativa tinha sido introduzida nesse sentido, a impaciência das classes trabalhadoras começou a exteriorizar-se, de tal forma que nos primeiros meses de 1911 já quase todas as corporações operárias de Lisboa tinham organizado greves. O movimento estendeu-se rapidamente a todo o país, contabilizando-se, no final de 1911, um total de 42 greves envolvendo 25.670 grevistas; de resto, a orientação sindicalista revolucionária vinha, também ela, conquistando cada vez mais adeptos entre os trabalhadores.

É de mencionar, neste contexto, a promulgação, pelo ministro do Fomento, Brito Camacho, da equiparação do direito à greve e lockout, inscrita no "decreto burla" a 6 de dezembro de 1910, atribuindo ao Governo o direito de usar todo o seu poder para reprimir de forma rápida e eficaz quaisquer manifestações de descontentamento do operariado. Não tardou muito para que a República sentisse as consequências decorrentes da exclusão daquele que era potencialmente um dos seus principais sustentáculos.

3. A "questão religiosa"

 

Sendo certo que a "questão religiosa" surge reiteradamente como um dos problemas estruturantes que mais têm sido apontados para justificar o fracasso da experiência da I República portuguesa, a verdade é que são poucos os elementos que permitem concluir que a Lei de Separação entre as Igrejas e o Estado - promulgada a 20 de abril de 1911 pelo ministro da Justiça, Afonso Costa - teve uma influência direta no afastamento da República, e do seu ideário, em relação às classes rurais e conservadoras, tradicionalmente católicas. É aliás sabido que, apesar de logo na primeira reunião do Conselho de Ministros, realizada a 9 de outubro de 1910, o ministro da Justiça ter feito aprovar um decreto ordenando a expulsão ou a passagem compulsiva de ordens religiosas à vida secular, o ministro do Interior António José de Almeida acabaria por expedir, quase em simultâneo, uma circular aos governadores civis recomendando-lhes que o culto religioso fosse respeitado em todas as igrejas. António José de Almeida procurava corrigir e moderar os ímpetos mais reformistas que a lei refletia, reenquadrando-a e subordinando-a a propósitos mais gerais: o Governo da República respeita a religião de cada cidadão como mero caso de consciência, contra o qual ninguém pode atentar, e só proceder contra o clericalismo e a reação por serem contrários à liberdade humana, à paz e à ordem social.

Revelavam-se já os contornos de uma política em que se destrinçava claramente, por um lado a separação entre o Estado e as Igrejas, e, por outro, a religião sentida pela alma coletiva do povo, que se deveria respeitar. Entenda-se, porém, que os caminhos que se indicavam para o país ficariam ainda mais claros quando, já durante o sidonismo, o então ministro da Justiça, Moura Pinto, reviu a Lei de Separação retirando-lhe alguns dos seus aspetos mais polémicos; pouco tempo depois, e sem grandes surpresas, seriam restabelecidas as relações entre Portugal e o Vaticano. Em 1923, o Presidente da República, António José de Almeida, impunha o barrete cardinalício ao Núncio Apostólico em Lisboa, Achilles Locatelli.

Vale a pena sublinhar ainda que neste domínio, o próprio Centro Católico Português, criado a 8 de agosto de 1917, acabaria por pôr em prática - entre hesitações e inércias - uma estratégia que passava pela aproximação ao republicanismo, considerando-a crucial para o cumprimento das reivindicações da Igreja. O caminho proposto foi de resto determinante para que a formação de um bloco conservador-autoritário só viesse a concretizar-se após o golpe de 28 de maio de 1926.

4. A ausência de política económica

 

Anti-igreja numa ilustração da época afonso costa é representado no ataque feroz que moveu contra os jesuítas. E que lhe valeu a alcunha, pelos seus opositores, de ‘mata-frades’
Anti-igreja numa ilustração da época afonso costa é representado no ataque feroz que moveu contra os jesuítas. E que lhe valeu a alcunha, pelos seus opositores, de ‘mata-frades’

O regime republicano não definiu uma política económica e financeira própria. Os objetivos avançados pelos republicanos neste domínio - fomento económico e equilíbrio das contas públicas - eram bastante idênticos aos contemplados no modelo económico da Regeneração, apesar de considerarem premente a revisão da estratégia a prosseguir. Importa, contudo, não esquecer que, apesar das propostas de fomento avançadas pela República terem ficado, na maioria dos casos, por concretizar, foram sendo incorporadas algumas novidades bastante significativas, nomeadamente a aposta na difusão da instrução, defesa da exploração racional das colónias e aumento do crédito agrícola. Deve destacar-se também o êxito republicano, efémero, é certo, no esforço de reequilíbrio financeiro, através do aumento das receitas e a diminuição das despesas do Estado.

Não deve esquecer-se, sem dúvida, o contributo moderno e inovador deixado por pensadores incontornáveis como Basílio Teles (1856-1923) e Ezequiel de Campos (1874-1965) que, numa série de escritos dispersos, procuraram enquadrar algumas temáticas relacionadas com o desenvolvimento económico nacional, nomeadamente a especialização do país na produção agrícola, a valorização do solo e o planeamento regional. No caso específico de Ezequiel de Campos, passavam também por uma consciencialização quanto ao papel da energia elétrica no desenvolvimento e valorização da economia nacional.

No seu conjunto, porém, a República acabou por não apresentar qualquer estratégia de desenvolvimento económico, ficando-se pela promulgação de um conjunto de medidas avulsas decorrentes da necessidade de responder a questões mais urgentes, enformando, com certeza, uma ideia de fomento, mas sem refletir qualquer política económica de fomento.

5. A falta de apoio popular

 

De acordo com a sua ideologia positivista, o republicanismo procurava realizar um projeto socialmente heterogéneo que envolvesse todas as classes sociais; tanto as que a monarquia não tinha conseguido integrar, como as descontentes com os seus métodos de governação. Esta opção ganhou força a partir da década de 80 do século XIX, e acabou por se refletir no estilo, "interclassista" e "popular", adotado por alguns oradores republicanos nos discursos realizados em Lisboa e nas localidades mais industrializadas do país.

Era sobretudo nos meios urbanos que o poder do republicanismo residia, sendo notórias as dificuldades que desde cedo revelou em transpor e conquistar as fronteiras do mundo rural.

Em termos gerais, e contextualizando o país da revolução, a população portuguesa, composta por 5,5 milhões de habitantes, era maioritariamente analfabeta, permanecendo, no essencial, à margem do significado e do impacto do republicanismo vitoriado. Este seria, de resto, um dos argumentos mais evocados para justificar a renúncia ao direito ao sufrágio universal, tão evocada durante a propaganda, e que a lei eleitoral de 1913 - bem mais restritiva do que a legislação eleitoral monárquica - consubstanciaria.

E, a este nível, é fácil adivinhar as contradições que emergiam de forma evidente, uma vez que uma ampla fatia da população portuguesa se via assim afastada do exercício do direito de voto. O enunciado é revelador sob todos os pontos de vista, permitindo perceber as fragilidades de um regime que se fez apoiar numa tão exígua base eleitoral, permitindo-se excluir o apoio legitimador tanto do operariado iletrado como do mundo rural analfabeto.

6. A participação na guerra

 

A guerra mundial, na qual a República insistiu em participar ativamente, mesmo no palco europeu, expondo diariamente e de forma crua as limitações do republicanismo, gerou dificuldades indeléveis no campo político, económico, financeiro e social, e até acabou por criar o contexto e gerar as condições não só para o surgimento mas também para a justificação das primeiras experiências manifestamente antiparlamentares e antiliberais. A afirmação do primado da disciplina e da ordem e o seguimento de uma orientação económica de matriz conservadora, sobretudo no tocante à definição do papel do Estado - distanciando-se o mais possível das tendências desenhadas pelos Democráticos - acabou por constituir um entreato importante e característico da história da frente interna portuguesa durante os anos do conflito, criando ruturas e provocando impactos duradouros e profundos a nível social, económico e financeiro.

No seu conjunto, a participação de Portugal na I Guerra Mundial ditou o fim da I República. A guerra pôs a nu, exacerbando-as, todas as clivagens que tinham caracterizado o regime desde a sua implantação, em outubro de 1910: acentuou a impopularidade do Partido Democrático e de Afonso Costa e contribuiu para intensificar o conflito entre o movimento operário e a República.

7. O peso dos monopólios e um vazio do Estado

 

No início da década de 20, no país diferente que saíra da guerra, eram vários os políticos a considerar que a República tinha falsificado o seu programa, não só porque manteve os monopólios existentes à data da proclamação do regime (tabacos, fósforos), como criara novos privilégios e monopólios. O fracasso do poder político perante o peso e a influência alcançados pelos "grupos económicos" - que durante estes anos chegaram a controlar os principais jornais do país ("Diário de Notícias", "O Século" e "O Primeiro de Janeiro") -, era o reflexo do insucesso das políticas económicas republicanas, aliado à ausência de uma estratégia de atuação global que reservasse ao Estado um papel mais interventivo e dinâmico.

Por esta altura era também a ditadura que começava a ser apresentada como o único remédio capaz de expurgar os males da República, retórica clamada, entre tantas vozes, pela União dos Interesses Económicos, agrupamento político constituído, em 1924, justamente com o objetivo de salvaguardar os interesses das forças vivas.

Texto publicado na revista Única de 2 de outubro de 2010

26
Mai10

Dom Duarte Fornica?

olhar para o mundo

D. Duarte em entrevista: "Tornar obrigatório o ensino da educação sexual resume-se a dizer:forniquem à vontade, divirtam-se...". Algumas considerações sobre o acto de "fornicar".

 

Nunca imaginaria o Duque de Bragança, que reivindica ser o Príncipe Real de Portugal, a usar a palavra "fornicar". A menos que se estivesse a referir a um stand de automóveis em Fornos de Algodres: O Fornicar. Não que ache a palavra menos nobre e por isso vedado o uso aos que dizem representar o restos da Nobreza. Mas que diabo, soa mal. "Fornicar!"

Não me escandalizaria o uso de um termo similar, mas a figura pachorrenta e simpática que D. Duarte aparenta não se coaduna muito com o uso da expressão "fornicar". Talvez um truca-trucatreka trekaou ainda dar uma real...admitindo até o uso de uma mão marota a demonstrar gestualmente a malícia do pensamento e a depravação da garotada na prática desavergonhada e desinibida do coito. Mas "fornicar", "ensino""à vontade" tudo junto é que não. Péssima escolha.

Até porque as famílias reais não têm muito a ensinar aos Estados Republicanos nestas coisas da educação sexual. Basta recuarmos um pouco e ver que o "fornicanço" generalizado, por vezes incestuoso e bastante precoce era prática comum no seio de mui nobres casas. Muitos casavam sem saber a tabuada dos 3 e aos 15 anos de idade já iam no 4º filho. Uma educação sexual baseada na óptica do utilizador.

O Duque de Bragança até se pode considerar a Real excepção Europeia que confirma a regra, pois casou tarde e teve o primeiro de 4 filhos já com cara de avô simpático. Resta saber com que idade começou Dom Duarte a fazer o amor, e esperar sinceramente que não tenha sido apenas depois de se casar.

O termo "fornicar" serve apenas apenas para os fedelhos da plebe que frequentam aulas de educação sexual obrigatórias em vez das de religião e moral como desejaria D. Duarte: "desencorajam-se as aulas de educação moral e estamos a dizer que a moral não tem importância, que só a sexualidade livre é fundamental para a felicidade dos portugueses".

A moral é importante, mas convém alguém dizer aos adolescentes, principalmente na época em que vivemos, da tal "livre sexualidade", que usar um preservativo não é pecado e não será certamente imoral. Só mesmo na cabeça de quem age entre caçadas, tacadas, tainadas e touradas como se Portugal vivesse no passado é que uma aula de educação sexual pode ser responsável por transformar um grupo de crianças num bando de "fornicadores implacavéis".

 

Via 100 Reféns

10
Ago09

..há mesmo pessoas que querem restaurar a monarquia?

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