Saber ou não saber!
Via Henricartoon
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"Uma vez o meu filho perguntou-me se eu era amiga do pai dele, porque nunca nos via juntos. Eu fiquei muito atrapalhada, não sabia o que dizer", conta Adelaide Calvo, 40 anos, administrativa. Por um lado, a relação com o ex-marido não era a melhor, por outro queria proteger o filho de seis anos dos problemas dos adultos. "Acabei por mentir para lhe transmitir tranquilidade." Sentiu que naquela altura era a melhor solução. No entanto, passados oito anos, ainda se lembra da história. Nenhum progenitor gosta de sentir que está a enganar um filho. Neste caso, dizem os especialistas, o instinto maternal estava certo.
Licença para mentir Pai, alguma vez tomaste drogas? Porque é qu agora nunca vais trabalhar? Se tu e o pai são amigos, porque nunca saem juntos? Ouvi a mãe dizer que não temos dinheiro para pagar a casa. É verdade? Na escola tiravas muitas negativas? O tio está no hospital. Vai morrer? Ó mãe, já fizeste sexo oral? Quantas bebedeiras já apanhaste? És tu a fada dos dentes? Fumar é bom? Via Ionline
"Quando a verdade conduz a criança a sentimentos de ansiedade e medo, como as situações de doenças, os problemas financeiros e o desemprego", as mentiras e as omissões são aceitáveis, explica o pediatra Mário Cordeiro ao i. Nos casos de divórcio, é importante evitar as confusões: as relações conjugais não são o mesmo que as relações paternais, acrescenta. Os pais não podem permitir uma invasão da sua esfera privada. Devem, sim, ter a preocupação de dizer ao filho que "o adoram, que o vão proteger sempre, fazer cócegas, contar histórias e mandar lavar os dentes". Ou seja, ser pais.
a melhor resposta Às vezes dizer a verdade é complicado, ainda mais quando se trata de crianças. O ser humano diz, em média, 200 mentiras por dia. Um estudo realizado na Faculdade de Medicina da Pensilvânia, nos EUA, utilizando a ressonância magnética funcional do cérebro, mostra que conseguimos mentir, em média, uma vez cada cinco minutos. Existem mentiras piedosas, mentiras duras, omissões, mentirinhas e mentirolas. Os adultos usam as mentiras como saída de emergência, muitas vezes para criarem uma realidade menos cruel. Quantas vezes já mentiu ao seu filho?
Para a psicóloga Annie Romantini os pais têm de ser claros e responder exactamente, e só, àquilo que os filhos perguntam. O problema é que não há fórmulas ou receitas milagrosas. E as crianças são peritas em perguntas difíceis. Vanessa Coutinho, 34, directora de um SPA e mãe de três miúdos de um, dez e 14 anos, sabe-o bem. Um dia o filho mais velho, então com cinco anos, surpreendeu-a: "Mãe porque é que a minha pilinha fica grande quando tocas nas minhas maminhas?" "Fiquei tão vermelha, nem sabia onde me havia de meter", conta. Passou a bola. "Como sou um bocado quadrada, quando acontecem coisas deste tipo digo logo para irem falar com o pai." O parceiro respondeu, mas optou pela explicação científica. Talvez não tenha sido a melhor estratégia. "Cada situação deve ser avaliada, assim como a linguagem utilizada", reforça a pedo- psiquiatra Isadora Pereira.
PARTILHA DE PROBLEMAS Quando se separou do companheiro, Sónia Cardoso, 29 anos, jornalista, explicou tudo à filha, na altura com três anos. Sem entrar em pormenores. "Disse-lhe que já não estávamos bem juntos", lembra. "Agora sinto que ela percebe que somos mais felizes assim." Os especialistas aceitam que certas verdades possam ser camufladas para se tornarem mais suaves, evitando pormenores "sórdidos" e demasiado complicados, avança Mário Cordeiro. Até porque, continua, "há coisas que pertencem só ao mundo dos adultos" e não "vale a pena lançar sobre os ombros de uma criança aquilo que ela não entende mas a assusta". Ainda assim, alerta, não se deve subestimar a criança nem a sua capacidade instintiva de se aperceber da realidade. Ela tem de sentir que faz parte da família. Para isso é importante a partilha dos problemas. "Poupá-la em demasia pode gerar dificuldades em ultrapassar adversidades ou obstáculos."
“Se a minha filha me perguntasse se já fumei um charro, eu dizia que não.” A psicóloga Annie Romantini não tem dúvidas: este é um dos poucos casos em que os pais podem mentir com todos os dentes sem se sentirem mal por causa disso. É importante manter o respeito, para mais tarde poderem dizer: “Isto é errado, não podes fazê-lo.”
As crianças têm uma grande capacidade intuitiva e percebem quando os pais não estão bem. Mas preocupá-las com coisas que não são para a sua idade pode assustá-las e tirar-lhes a tranquilidade. No caso de uma situação temporária, os pais devem esconder a verdade e dar a ideia de que está tudo bem.
A resposta é simples:“Eu e o teu pai adoramos-te, queremos o melhor para ti.” Os pais devem fazer os filhos entender que podem não ser os melhores amigos, mas que se respeitam e que o conceito de amizade dos adultos é diferente do das crianças, reforça Mário Cordeiro.
“A omissão é positiva”, afirma a pedopsiquiatra Isadora Pereira. Os problemas financeiros são do mundo dos adultos e os filhos não devem nem precisam de saber de todos os problemas dos pais. “Temos dinheiro para te dar tudo aquilo de que precisas"é uma resposta possível.
Poucos pais foram alunos perfeitos, mas quase todos gostariam que os filhos o fossem. A solução não é mentir, mas adoçar a verdade ou contornar a pergunta:
“Não importa se tirei ou não negativas. Isso não te dá o direito de as tirar também.” Outra hipótese: “Que diferença é que isso faz?”, sugere Annie Romantini.
Pode explicar que o tio está doente, sem entrar em pormenores sobre o problema de saúde e contornando a questão da morte: “Todos esperamos que se cure”, por exemplo. “Há que sublinhar que as crianças apenas pretendem resposta para aquilo que perguntam e não mais que isso”, explica o pediatra Mário Cordeiro.
Quando menos espera, aparece a bomba – os miúdos falam de coisas que nunca imaginámos. Depois de vencer o embaraço, tente lembrar-se dos conselhos de Mário Cordeiro: a intimidade deve ser preservada. Quando as perguntas entram por territórios privados, “os pais podem omitir a verdade nua e crua”.
“O meu filho começou a fazer este tipo de perguntas quando passou a ver telenovelas”, conta Adelaide Calvo, mãe do João, de 14 anos. A psicóloga Annie Romantini explica que aqui a mentira é benéfica. Mais uma vez, é importante dar o exemplo. O faz o que
eu digo e não o que eu faço raramente resulta.
Manter algumas “mentirinhas” que todos sabem o que são, mas que correspondem a fantasias infantis, como a Fada dos Dentes e o Pai Natal, é positivo. “Todas as crianças têm o direito de ter fantasias, e isso é bonito e é importante”, afirma Annie Romantini. Até quando? Até descobrirem a verdade por elas próprias.
Apesar dos muitos problemas que pode trazer, por alguma razão tantos fumadores insistem em fazê-lo: sabe bem. O melhor para um pai fumador é reforçar os pontos negativos e evitar que o filho tenha curiosidade de experimentar. Mário Cordeiro aconselha-os a explicar que as pessoas não são perfeitas, mas que talvez um dia, com a ajuda do filho, consigam deixar o vício.
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