A freira e a bola
Uma freira “doida pela bola” promete transformar o convento onde vive, em Viana do Castelo, num mini-estádio de futebol, com vuvuzelas e tudo, para “dar força” à Selecção Nacional noMundial da África do Sul.
Adepta ferrenha do Futebol Clube do Porto e antiga praticante de futebol federado, Maria de Lurdes Araújo, 44 anos de idade e freira há 20, admite mesmo “fintar” as horas de oração do convento para não perder os principais momentos do Campeonato do Mundo.
“Às tantas, se os jogos coincidirem com a hora da oração, ainda peço à Irmã Teresa [a irmã superiora do convento] para não ir rezar. Não é todos os dias que temos um Mundial de Futebol”, disse, à Lusa, Maria de Lurdes, uma das três “inquilinas” do convento de Viana do Castelo das Irmãs Reparadoras Missionárias da Santa Face.
Sempre de ténis calçados, esta freira vibra autenticamente com os jogos de futebol, sendo muitas vezes “apanhada” a tentar meter um golo com a cabeça ou a cortar vigorosamente uma bola que ronda a baliza do seu clube.
As outras duas freiras que ali vivem não ligam nenhuma à bola, mas não será por elas que Maria de Lurdes se verá privada de viver - e de vibrar - com as defesas de Eduardo, a autoridade de Bruno Alves e a magia de Deco.
Estes são, precisamente, por ordem inversa, os jogadores da Selecção Nacional mais apreciados por Maria de Lurdes, que, sem papas na língua, diz ainda que “Cristiano Ronaldo está ali a mais”.
“Nos clubes joga que se farta, na seleção não dá uma para a caixa. Não se adapta. E se não se adapta, não devia lá estar. É como se me mandassem para uma missão para a Índia e eu chegasse lá e não me adaptasse. Estava lá a fazer o quê?”, atira.
Não acredita que Portugal seja campeão do Mundo e nem sequer vai rezar para que os “tugas” ganhem, já que, como refere, “isso é com eles, é para isso que eles estão lá, é para isso que são pagos”.
“Vou rezar para que não tenham lesões e corra tudo bem, isso sim. Agora para ganhar é que não. Essas coisas das vitórias não vão lá com orações”, refere.
Quando jogou futebol federado, durante quatro anos, no clube da Correlhã, Ponte de Lima, Maria de Lurdes atuava a defesa central, tendo, na altura, como ídolo Lima Pereira, que jogava na mesma posição no Futebol Clube do Porto.
O “portismo” de Maria de Lurdes está ainda bem patente na caneca, com o símbolo do clube das Antas, pela qual toma todos os dias o pequeno almoço.
“É doida pela bola e pelo Porto”, refere a irmã superiora, confessando que não percebe nada de futebol e que não tem clube, mas que às vezes diz que é benfiquista “só para se meter” com Maria de Lurdes.
A outra freira do convento, Madalena Pereira, diz que só foi uma vez ao futebol, ver um Porto-Belenenses, mas chegou para ficar “escaldada”.
“Nunca mais. Era só ‘carvalhos e mais carvalhos’, era só gente a chamar nomes à mãe do árbitro”, recorda.
Via ionline