Navegar navegar Mas ó minha cana verde Mergulhar no teu corpo Entre quatro paredes Dar-te um beijo e ficar Ir ao fundo e voltar Ó minha cana verde Navegar navegar
Quem conquista sempre rouba Quem cobiça nunca dá Quem oprime tiraniza Naufraga mil vezes Bonita eu sei lá
Já vou de grilhões nos pés Já vou de algemas nas mãos De colares ao pescoço Perdido e achado Vendido em leilão Eu já fui a mercadoria Lá na praça do Mocá Quase às avé-marias Nos abismos do mar
navegar navegar...
Já é tempo de partir Adeus morenas de Goa Já é tempo de voltar Tenho saudades tuas Meu amor De Lisboa Antes que chegue a noite Que vem do cabo do mundo Tirar vidas à sorte Do fraco e do forte Do cimo e do fundo Trago um jeito bailarino Que apesar de tudo baila No meu olhar peregrino Nos abismos do mar
Foi no sulco da viagem
Já sem armas nem bagagem
Nem os brazões da equipagem
Foi ao voltar
Pátria moratória
No coração da história
Que consumiste a glória
Num jantar
Foi como se Portugal
P?ra bem e p?ra seu mal
Andasse em busca dum final
P?ra começar
Ávida violência
Reverso da inocência
Sal da inconsciência
Que há no mar
Império tão pequenino
De portulano caprino
Bolsos de sina e de sino
Em cada mão
Pátria imaginária
De concistência vária
Afirmação diária
Do teu não
As malas do portugueses
São como os olhos das rezes
Que se mastigam três vezes
Em cada chão
Cândida ignorância
Grande desimportância
Os frutos da errância
Já lá estão
Melodia 2 (solistas, depois coro adulto misto)
Ai Senhora dos Navegantes me valei
De África, do sal e do mar só eu sobrei
Foi p?ra me encontrar que amanhã já me perdi
Longe vai o tempo que eu já não estou
aqui
Ai Senhora dos Talvez-Muitos-Mais- Sinais
Socorrei estes desperdícios coloniais
Foi na noite fria que o dia me cegou
Inda agora fui, inda agora cá não estou
Ai Senhora dos Esquecidos me lembrai
O caminho que p?ra lá vem e p?ra cá vai
Etecetera e tal, portugal é nós no mar
Inda agora vim e estou longe de chegar
Ai Senhora dos Meus Iguais que eu subtraí
Foi pataca mim e não foi pataca a ti
Se é tão grande a alma na palma do meu ser
Algum dia eu vou finalmente acontecer
Melodia 3 (coro infantil + JMB)
Porque não tentar outro ponto de vista
A história dos outros quem a contará
Se qualquer colónia sem colonialista
São os que já estavam lá
Tentemos então ver a coisa ao contrário
Do ponto de vista de quem não chegou
Pois se eu fosse um preto chamado Zé Mário
Eu não era quem eu sou
Os navegadores chegaram cá a casa
E foi tudo novo p?ra eles e p?ra mim
A cruz e a espada e os olhos em brasa
Porque me trataste assim?
Não é culpa nossa se quem p?ra cá veio
Não se incomodou ao saber do horror
A história não olha a quem fica no meio
E o que foi é de quem fôr