Mickey. Um lado mais negro do rato mais famoso do mundo
Os olhos de Warren Spector iluminam--se quando lhe é passado para as mãos o comando da Wii. Vai apresentar o jogo que esteve a criar nos últimos anos. Fã do universo Disney desde criança, Spector foi o escolhido para pensar a remodelação de um dos ícones mais conhecidos do planeta: o Rato Mickey. "A primeira coisa que pensei depois de me convidarem foi ''tenho de manter a calma, tenho de manter a calma'', mas na verdade era apenas um fã", contou ao i, no final de Outubro, aquando da apresentação do jogo, em Paris.
Depois de décadas com a imagem cristalizada, a Walt Disney decidiu finalmente mexer no maior símbolo da empresa. A decisão é arriscada. É que, apesar do ar inocente, o Mickey e os amigos representam uma receita anual de mais de 5 mil milhões de euros. Qualquer pequena alteração pode afectar esta fonte de rendimento e destruir o património histórico de uma personagem já com 82 anos.
O meio escolhido para dar nova vida à personagem foi um jogo para a consola da Nintendo intitulado Epic Mickey. A intenção inicial era que o Mickey pudesse ser verdadeiramente mau se o jogador escolhesse, mas depois de alguns focus groups, Spector chegou à conclusão que era demasiado radical. No entanto, permaneceu a ideia de fazer um Mickey com mais malícia, mostrando um lado mais malcomportado. "A intenção era ter a certeza de que respeitávamos o Mickey", esclarece Andrea Tartaglia, vice-presidente da Disney para o marketing na Europa. "O resultado final é muito bom. O Mickey está como deve estar."
Em Epic Mickey, o rato mais famoso do mundo tem de explorar um mundo negro alternativo, para onde são enviadas personagens e diversões da Disney que foram substituídas ou esquecidas. E aí inicia um caminho de escolhas, em que pode transformar inimigos em amigos ou fazê-los desaparecer. "Quis que ele fosse capaz de ser malandro - quando estão a jogar com o Mickey podem portar-se mal ou ser um pouco egoístas", explica. "Adoro-o. Acho que é o melhor Mickey de sempre."
Spector é uma personalidade conhecida no mundo dos videojogos, responsável por títulos de sucesso como Deus Ex e System Shock. No entanto, Epic Mickey é um jogo especial para ele. "Quase chorei", admitiu depois de ter apresentado um vídeo sobre a história do Mickey. Tal como em jogos anteriores de Spector, o conceito de escolha é absolutamente central. O jogador pode decidir que tipo de herói quer ser e que Mickey quer criar. As escolhas têm efeitos directos no jogo, incluindo o final e os extras.
Apesar de a Disney e a Nintendo garantirem que é um jogo para todas as idades, não há como fugir ao carácter infantil da personagem. Ainda assim, o ambiente negro e melancólico dos cenários, bem como a constante possibilidade de escolha, pode apelar a um target mais adulto. Além disso, a Wii é bastante mais direccionada à família do que outras consolas. "Porque não pode ser para toda a gente?", questiona Spector. "Ninguém olha para UP, Incredibles ou Ratatouille e diz que são para crianças."
Deixar uma personagem congelada é o caminho mais rápido para a tornar irrelevante. E, se é verdade que deverá haver pouca gente que não conheça o Mickey, ele tornou-se mais o símbolo de uma empresa do que propriamente uma personagem apelativa aos novos públicos mais exigentes. A escolha sobre as atitudes a tomar por Mickey ao longo do jogo é a forma de a Disney perguntar aos jogadores que tipo de herói querem que o rato seja.
"Penso muito sobre o que [Walt Disney] pensaria", afirma Spector. "Pôr coisas na cabeça do Walt é sempre perigoso, mas acho que ele ficaria contente por mantermos as suas personagens vivas e relevantes numa nova era."
Epic Mickey estará à venda na Europa a partir da próxima quinta-feira, dia 25.
Via Ionline