Leica. Um mito perpetuado pelas mãos de artesãos portugueses
Todos os mitos guardam segredos e a Leica não é excepção. A marca nasceu em 1920 e, com a ajuda de Cartier-Bresson, tornou--se mítica poucos anos depois. Mas a Alemanha deixou de ser o país de fabrico por excelência quando, nos anos 70, foi preciso encontrar mão-de-obra barata.
Nessa altura, Portugal bateu a Irlanda e a Tunísia como berço da nova fábrica. Muitos funcionários então contratados nunca mais deixaram a fábrica e hoje metade dos mil técnicos Leica têm morada em Famalicão. "As pessoas acham que a grande capacidade de execução está na Alemanha", explicou ao i o fotógrafo Pedro Letria. A suposição não podia estar mais errada. É em Portugal que se produzem as peças e se montam as máquinas quase na totalidade. Mas a experiência de usar a etiqueta "made in Portugal" na série R não resultou: depois de perdas de 30% nos EUA e Japão, a Leitz (empresa que produz as Leicas) preferiu colar-se à etiqueta regular alemã. Letria explica: "Não é que desvalorize dizer 'made in Portugal', mas valoriza dizer 'made in Germany'."
A era digital foi um tiro certeiro na mítica Leica, mas o renascer do mito vai contar com a preciosa ajuda portuguesa. Na sexta-feira marca-se um mês do lançamento da M9, a nova Leica que Letria diz "que vai conseguir convencer os consumidores". Os preços exorbitantes afastam as carteiras comuns, mas o novo modelo oferece o melhor do digital e o melhor da Leica. "Com uma Leica, quando se faz clique está a ver-se o momento captado, o fotógrafo sabe que captou o que realmente queria."
Mais de 30 anos depois, a Leitz também conseguiu captar o que queria. No website, classifica os seus técnicos como "seres humanos maravilhosos", ainda que não refira que estes são, na sua maioria, portugueses. Se o segredo português fosse quebrado existiria o mito? Talvez não. Mas a reinvenção desse mito está em mãos nacionais: em poucas semanas, a fábrica do Norte já tem quase 20 mil peças Leica encomendadas.
Via ionline