Almoço bom e barato
Faça as contas. Quanto dinheiro gasta com os almoços à base de bitoque, massas com molho três queijos, hambúrgueres e, nos dias de extravagância, sushi? Se conseguir a proeza de pagar 7 euros por dia - esforço digno de um atleta de triatlo - são 140 euros por mês. Mas há mais um factor nesta equação alimentar: poder escolher o que come. A dietista Eduarda Alves, directora da Clínica dos Alimentos, defende que é uma escolha mais económica e mais saudável. "Podemos seleccionar o que comemos, fazemos combinados mais saudáveis, em vez de batatas fritas, levamos uma salada ou arroz. E sabemos como foram preparados os alimentos", diz ao i. Nós acrescentamos: até pode recordar os bons velhos tempos da infância quando levava um termo do Snoopy.
Se passar no Parque das Nações, em Lisboa, na hora do almoço num dia de sol, vai reparar que há cada vez mais pessoas a almoçar na rua. De fazer inveja às senhoras nova-iorquinas que bebem café a escaldar enquanto comem e correm. Sinal dos tempos? "Vejo cada vez mais pessoas no Parque das Nações a comerem como eu. Almoço com duas colegas e trago comida de casa há um ano e meio", explica Susana Pinto, assessora de comunicação, de 28 anos. As vantagens são óbvias: "O facto de ter de pensar no que se vai comer dá outro nível de consciência. Quando comemos por impulso, cheios de fome, caímos nas escolhas menos saudáveis. Além disso, aqui não consigo comer por menos de nove euros." Susana já testou quase todos os restaurantes das redondezas e nada se compara à ementa caseira. Apesar de não ter microondas no trabalho, o termo resolve tudo. "Trago sopa, outras vezes saladas ricas, com ananás, camarão, rúcula, tomate." Susana Pinto reconhece que por vezes é chato andar com saco, talheres e comida, mas compensa. E há sempre um dia da semana para ir ao restaurante.
Mafalda Afonso, de 27 anos, também faz parte do clube e diz que esta é a melhor forma de "nos safarmos da fast food". "É engraçado ver todo o tipo de marmita e há pessoas que as levam camufladas em sacos de lojas de roupa", diz a delegada comercial. O hábito ficou-lhe dos tempos de estudante e ainda hoje leva a comida que a mãe faz ao fim-de-semana. Quando não é possível, opta por saladas, massas ou peixe cozido com vegetais.
Ao contrário de Mafalda, que já fazia da marmita um hábito, Carla Carromeu, de 28 anos, começou a levar almoço apenas quando sobrava qualquer coisa do jantar. O cardápio parece ser unânime: saladas e sopas. Transportá-las é muito fácil, garante Carla, que trabalha no departamento de marketing de um banco. "Trago a comida em tupperwares e em sacos. Mas nas malas das mulheres cabe quase tudo." À laia de conselho, fica o recado: "Usem caixas quadradas ou rectangulares, são mais práticas."
Marta Cristiano dá outro conselho: "Habituar-se a cozinhar a mais para ter restos para levar na marmita." A designer está habituada a almoçar em tupperwares e diz que todas as comidas servem. "Desde bacalhau à Brás ou com natas, empadão de carne, caril de frango, arroz de pato, todo o tipo de sopas, frango guisado com massa, ovo mexido com arroz..." Há seis anos que deixou de ser cliente de restaurantes à hora do almoço. "Comecei quando fui trabalhar para a Rua Garrett, a ganhar o ordenado mínimo nacional (na altura 374 euros) e ainda tinha de pagar transportes. Não era comportável comer em restaurantes." Mas Marta, 29 anos, abre-nos o apetite. "Saber a qualidade do que estou a comer é importante. Muitas vezes uso legumes do quintal dos meus pais e frango criado nos galinheiros da minha avó." Convencido? Ah! E não tema ser mal visto pelo seu chefe. Conhecemos relatos que provam que não será discriminado. Aqui fica um exemplo: chefe convida colaboradora jovem para almoçar fora. A profissional recusa o convite, pega na lancheira da Hello Kitty e dirige-se para a copa. Não foi despedida. Garantimos.
Via Ionline