Se as previsões arrojadas dos analistas estiverem certas, a Apple vendeu mais de meio milhão de iPads no primeiro fim-de-semana de lançamento nos Estados Unidos. Os stocks não esgotaram e não foi preciso controlar as filas de consumidores com helicópteros, mas os números são bem superiores aos que eram apontados inicialmente - cerca do dobro.
Só no sábado, revelou ontem a Apple, foram vendidas 300 mil unidades do portátil tablet que é simultaneamente um leitor de livros electrónicos. E quando a empresa de Steve Jobs faz um comunicado dois dias depois de uma estreia, podemos ter a certeza de que as coisas correram bem.
"É uma óptima sensação ter lançado o iPad no mundo - vai mudar as regras do jogo", escreveu Jobs no comunicado de imprensa emitido ontem. "Os utilizadores do iPad descarregaram, em média, mais de três aplicações e um livro electrónico nas primeiras horas de utilização", revelou.
Apesar das dúvidas de muitos críticos, principalmente quanto às lacunas técnicas do aparelho e à ausência de espaço num mercado sobrelotado de smartphones e portáteis, as perspectivas dos analistas são agora melhores que em Janeiro, quando o iPad foi recebido com uma ponta de desilusão. Ontem foram vários os analistas que subiram para mais de 300 dólares o preço futuro estimado (preço-alvo) para as acções da Apple, um valor bem acima dos 235 dólares que valiam na semana passada e dos 200 registados no dia do anúncio do iPad. Desde que tirou o iPhone do bolso, em Janeiro de 2007, Steve Jobs já viu o valor das acções da sua empresa valorizarem quase 150%.
Futuro
O sucesso do iPad vai ser testado nos próximos meses, quando surgir a segunda versão do aparelho, com Wi-Fi e 3G, e der entrada numa dezena de mercados europeus e asiáticos. Para já, os sinais são positivos. A consultora Piper Jaffray subiu as previsões de vendas de 2,8 para 5,5 milhões de unidades em 2010. A iSuppli aponta para 20,1 milhões de iPads em 2012. Até a conservadora Forrester Research espera que a Apple venda três milhões de iPads no primeiro ano.
Nenhum outro tablet sequer chegou perto destes números. Mas também nenhuma outra empresa consegue ter publicidade gratuita, pessoas a acamparem três dias antes à porta das lojas e clientes eufóricos para serem recebidos com salvas de palmas. A estreia do iPad, como a do iPhone, poderia ter sido confundida com uma edição dos Globos de Ouro, tal era o espectáculo à sua volta.
"O lançamento do iPad diz menos do seu sucesso e mais da proeminência da Apple na nossa cultura, escrevia ontem o analista Charlie Wolf, da Needham & Co., numa nota aos clientes citada pelo MarktWatch. "O iPad é um aparelho de que ninguém precisa, mas que toda a gente quer", concluiu. Este será o grande desafio de Steve Jobs: criar um mercado onde ele não existe.
As enchentes nas lojas da Apple e da BestBuy no sábado foram uma prova de que a Apple mantém a aura de culto - e os números talvez fossem maiores se muitas lojas não tivessem fechado no domingo de Páscoa. Com 3100 aplicações já disponíveis na App Store, há cada vez mais empresas a anunciarem ofertas específicas, como a Marvel e a Walt Disney. Além disso, o iPad não é só para geeks. Shannon Evans, uma norte-americana do Michigan, disse à "PC World" que comprou o tablet para levar para a missa. O primeiro livro que comprou na iBook Store foi, é claro, a Bíblia.
Via Ionline
Há mais de uma semana que o cenário é sempre o mesmo na loja da Pixmania, no centro comercial Saldanha Residence, em Lisboa: centenas de pessoas de senha na mão à espera de levantar as encomendas feitas na internet. Quem passa por ali todos os dias já se habituou, e as lojas à volta até agradecem a azáfama.
No entanto, os clientes do site de internet não estão a achar graça nenhuma à situação. Apesar de ser mais barato levantar na loja, a média de espera é de três horas, quando a compra demorou escassos minutos e era suposto proporcionar uma época de compras natalícias descansada.
A experiência tem sido retratada de forma muito crítica em redes sociais, especialmente no Twitter: "Natal = ir à loja da Pixmania. Tirar senha. Ir almoçar. Voltar à Pixmania. Ir à livraria. Ler livro em frente à Pixmania. Levantar encomenda", escrevia ontem um utilizador irritado. "Nunca, mas NUNCA levantem equipamento no showroom da Pixmania", escreveu outro na semana passada.
O problema, garante Rui David Alves, director de negócio para o Sul da Europa da Pixmania, é que "o mercado português tem por hábito efectuar as suas compras de Natal muito próximas da data festiva". Além disso, a empresa investiu muito em publicidade e esse reforço "impulsionou esta procura", motivada também pelos preços mais baixos em várias categorias da electrónica de consumo. Nalguns equipamentos, como câmaras fotográficas, os preços chegam a ser 100 euros mais em conta.
Ainda assim, Rui David Alves garante que a empresa fez "algumas mudanças na loja, de forma a proporcionar mais condições e para agilizar as entregas diárias", mas sublinha que foi aberta mais uma loja no Porto e isso fez "com que o volume de negócio aumentasse e consequentemente a procura dos clientes".
Curiosamente esta não é uma questão apenas nacional. O mesmo tipo de filas e atrasos tem sido verificado em Espanha, Itália e até na França, onde a marca está sedeada. Por outro lado, vários clientes da Pixmania têm vindo a queixar-se de problemas com a devolução de encomendas, retenção indevida de pagamentos, atrasos nas entregas de correio e até inconformidades nos produtos - uma consumidora portuguesa queixou--se de lhe ter sido vendida uma consola Wii com ficha de tomada inglesa. Rui David Alves responde que a devolução é um processo "bastante complexo", já que o produto devolvido tem de ser validado em França. Só em Dezembro, a Pixmania processo quase meio milhão de encomendas em 27 países.