E hoje, o meu amor, vai ser feito na Bimby
A partir de hoje estou de greve.
Estou farta de cozinhar durante horas para ver tudo devorado em 10 minutos, entre dois copos de coca cola, ou com um vinho barato a acompanhar. Não quero mais sair do trabalho a correr, passar no supermercado, carregar sacos de compras até ao 4º andar sem elevador e despejar tudo em cima da bancada, que parece sempre pequena demais, e me dá ataques claustrofóbicos. Resolvi deixar de lado a balança, a panela de pressão, a frigideira, o tacho, o escorredor, a tábua da cozinha. Virei as costas ao molho bechamel para o bacalhau, ao ponto do leite creme, a meia hora, de colher de pau na mão, a mexer o arroz de pimentos. Estou de relações cortadas com o fogão e nem me obriguem a olhar para ele! Já agora tirem-me o forno e o microondas da frente, que já não posso com eles! Acima de tudo, não quero ter de lavar tudo, depois do repasto (balança, panela de pressão, frigideira, tacho, escorregor, tábua da cozinha...). Estou farta de cozinhar para ti. E para mim. Não quero mais o refogado, a picadora, o provar 30 vezes que me tira o apetite. Tudo, para que te possas sentar sossegado, com o jornal à frente, e os pés na lareira, sem sequer me dirigires palavra, nem olhares para o prato com o bife perfeitamente alinhado com as batatas, e no fim ainda dizeres "Isto engorda-me. E a ti também...". O que eu quero mesmo... é poder chegar a casa e beber o meu chá sossegada. O que eu quero mesmo, é poder comer aquele risotto de cogumelos que eu adoro, mas que me dá horrores de trabalho a fazer. O que eu quero mesmo, é que aqueças antes os teus pés nos meus e deixes de deitar lenha para dentro de um fogo que não aquece nada. Muito menos o meu coração. O que que quero mesmo é algo simples, que saia bem à primeira, que não se tenha de pensar muito, nem que dê muito trabalho, nem discussões, nem cheiro a queimado.. e que mesmo assim, fique delicioso. Perfeito. Divinal. A partir de hoje, estou de greve. E hoje, o meu amor, vai ser feito na Bimby!