Ciência e tecnologia made in 2010
Novos planetas: Um sistema solar muito parecido com o nosso
Uma equipa internacional de caçadores de planetas extra-solares (entre os quais os portugueses Alexandre Correia, da Universidade de Aveiro, e Nuno Santos, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto) descobriu este ano, a 127 anos-luz de nós, um sistema solar composto por sete planetas que é o mais parecido com o nosso sistema solar descoberto até agora. Um dos seus planetas é provavelmente rochoso e pouco maior do que a Terra; um outro, também rochoso, será semelhante a Saturno. Os outros cinco são gasosos como Neptuno. Todos eles giram em torno de uma estrela chamada HD 10180, na constelação da Hidra. Desde 1995 já foram detectadas centenas de planetas extra-solares e 15 sistemas solares com pelo menos três planetas.
O primeiro planeta extra-solar de sempre foi descoberto por Michel Mayor e Didier Queloz, do Observatório de Genebra, na Suíça (que também integram esta equipa). Os resultados foram anunciados em Agosto e publicados a seguir na revista Astronomy and Astrophysics. É, porém, quase certo que o planeta mais semelhante ao nosso não alberga vida (nem passada, nem presente), uma vez que se encontra demasiado perto da sua estrela para isso ser possível. Por Ana Gerschenfeld (AG)
Vida artificial: Fabricar uma bactéria em laboratório
Este ano, Craig Venter e a sua equipa, do J. Craig Venter Institute, nos EUA, publicaram um resultado que vinham anunciando há bastante tempo: tinham conseguido criar, em pratinhos de laboratório, a primeira forma de vida artificial.
Antes disso já tinham fabricado cópias do genoma de uma bactéria natural, Mycoplasma micoides, utilizando versões sintéticas dos componentes de base do ADN, disponíveis no comércio. E também já tinham mostrado que as células de uma outra espécie bacteriana, Mycoplasma capricolum, parecida mas diferente, eram capazes, se fossem previamente privadas do seu próprio genoma, de "adoptar" e portanto de reproduzir o genoma natural de Mycoplasma micoides. Agora, os cientistas conseguiam realizar a terceira etapa do seu programa: fazer com que as células de Mycoplasma capricolum adoptassem o ADN artificial de Mycoplasma micoides, criando assim microrganismos com um património genético totalmente artificial.
O trabalho não foi fácil: na primeira tentativa, não aconteceu nada. E, ao longo de meses, a equipa teve de eliminar os erros de código que impediam que o genoma artificial funcionasse, corrigindo literalmente letra a letra o ADN (que continha um milhão de "letras"). Exactamente como os autores de software que, para fazer funcionar um programa de computador, precisam de fazer o debugging do código informático.
Quando os resultados foram publicados, em Maio, na revista Science, houve quem dissesse que isto equivalia a fazer de Deus. Mas não é bem assim. Venter e os seus colegas não criaram vida de raiz - o que continua a ser impossível de fazer. Para reproduzirem o ADN artificial que tinham construído, recorreram à maquinaria celular, extremamente complexa, de uma bactéria já existente.
Claro que isso não significa que não se deva reflectir sobre as implicações éticas e de segurança que as criações deste tipo podem vir a colocar. Aliás, os cientistas congratularam-se por esse aspecto do problema ter sido sempre uma das suas grandes preocupações em todo este processo.
Quanto a aplicações futuras do resultado, elas podem ir desde a invenção de algas produtoras de biocombustíveis inéditos à geração de bactérias capazes de fabricar novas vacinas e medicamentos. E talvez outras coisas que ainda ninguém imaginou. A.G.
Nova forma de vida: A bactéria que gosta de arsénio
Via Público