Os conselhos que se seguem são de Alan R. Hirsch, o neurologista norte-americano que mais sabe sobre estas duas coisas: excitação sexual e cheiro. Se continua inspirado pelo Dia dos Namorados, tente esta ementa no próximo jantar romântico: salada de pepinos, tarte de abóbora e donuts. Churrasco está fora de questão e nada de cerejas. Resultará melhor do que qualquer outra coisa, garante a Fundação para o Tratamento e Investigação do Olfacto e do Paladar, com sede em Chicago.
Hirsch, de 53 anos e uma carreira que começa na década de 1970 na Universidade de Michigan,Estados Unidos, tem mais de 200 artigos publicados e uma mão-cheia de patentes que utilizam os odores para desvendar distúrbios psicológicos ou alterar a capacidade de aprendizagem. Nunca pensou tornar-se um consultor sexual, mas o caminho acabou por ser incontornável. "Lidávamos com doentes que perderam o olfacto e um dia percebemos que quase um quarto das pessoas sem este sentido desenvolveram disfunções sexuais", explica ao i.
Começaram a explorar a relação entre os odores e a excitação sexual. Primeiro experimentaram diferentes perfumes, mas foi uma surpresa quando os melhores resultados apontaram para o cheiro a comida. Em vez de se excitarem com os extractos de plantas, as cobaias pareciam preferir o cheiro de controlo usado pelos cientistas, neste caso bolinhos de canela em forma de caracol, muito apreciados nos Estados Unidos. "Os resultados com o cheiro do bolo ultrapassavam tudo o que era perfume", recorda o investigador. O processo consistia em medir o fluxo sanguíneo do pénis enquanto se testavam diferentes aromas. Concluiu-se que o cheiro a tarte de abóbora com lavanda era a melhor combinação: aumentava 40% o fluxo no pénis. Seguia-se o cheiro a donuts com alcaçuz preto, um estímulo de 31,5%, e o aroma da laranja, com um resultado de 19,5%. Nascia uma nova lista de afrodisíacos com base no aroma, que quase prescindiam da necessidade de comer: "90% do sabor tem a ver com o cheiro", sublinha Hirsch.
O poder da comida motivou um estudo parecido com mulheres. "São menos excitáveis", resume o investigador. No sexo feminino, o que funciona melhor é o aroma de pepinos e pó de talco, mas só desencadeia um aumento de 13% da irrigação vaginal. Segue-se mais uma vez o alcaçuz e pão com nozes e banana. Já o cheiro a cerejas (-18%) e carne grelhada no churrasco (-14%) se revelaram inibidores da excitação, resultados que não foram encontrados para os homens, sublinha o investigador. Coube-lhe ainda destronar clássicos: "O chocolate não tem qualquer impacto. Nas mulheres, a reacção é mínima e nos homens compensava mais comer uma fatia de pizza com queijo." Traçaram várias teses sobre a relação entre olfacto e excitação para chegarem a um argumento evolucionista: "Nos nossos antepassados, a capacidade de capturar alimento favorecia-os em termos de procriação. Pensamos que a excitação através de comida venha daí."
Viagra de abóbora
O grande objectivo não é dar conselhos sexuais, diz Hirsch, que espera utilizar estes estímulos, sobretudo o sucesso conseguido com a tarte de abóbora, para tratar a disfunção eréctil em diabéticos.
"Até hoje não tivemos eficácia, mas experimentámos em fases avançadas da doença em que nem o Viagra funciona", explica o médico, que continua a publicar estudos inesperados. Num deles identificou o sabor preferido dos beijos de homens e mulheres casados e solteiros. As casadas preferem um aroma fresco, os solteiros o sabor a álcool. Noutro estudo traçou retratos psicológicos a partir da sandes preferida - salada com ovo reflectem egocêntricos, frutos do mar agradam aos mais generosos.
Para amar melhor há menos novidades. Um trabalho recente com corais que poderá dar pistas para o homem concluiu que existe um gene que poderá explicar a associação entre o nascimento e a lua cheia.