Sexo é mais que um simples coito!
Crenças erradas e mitos ainda impedem muitos casais de ter uma vida sexual plenamente satisfatória. "Tanto as mulheres como os homens continuam a achar que o coito é a forma mais correcta para se atingir o orgasmo", diz Pedro Nobre, presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica. "Infelizmente, ainda muitos casais limitam a sua vida sexual ao coito." A saúde sexual é um dos temas a debater durante o Congresso Europeu de Sexologia, que começa hoje, no Porto.
É que, apesar de 30% a 45% das mulheres terem problemas sexuais, só uma minoria não é capaz de atingir o orgasmo. "Se excluirmos os casos em que há alguma disfunção, a maior parte das mulheres consegue atingir o orgasmo. Só não consegue em caso de desconhecimento ou inadequada estimulação sexual", refere o psicólogo clínico. A penetração não é, por isso, a melhor forma de a mulher atingir o orgasmo.
"Muitas mulheres não recorrem à estimulação do clitóris e nunca se masturbam. Nem as mulheres conhecem o seu corpo nem os homens, muitas vezes, sabem onde fica o clitóris."
O maior dos problemas nas mulheres, que atinge 20% a 30%, é a ausência de desejo sexual, um problema que é ainda muito reduzido nos homens, mas que tem tendência para aumentar.
"Apenas 5% dos homens referem ter falta de desejo, embora esta esteja muito ligada a outros problemas como a disfunção eréctil." Se o homem não resolver este problema, acaba por ir perdendo o desejo e evitar a relação sexual. O especialista refere, porém, que "este problema tem tendência a aumentar nos homens, sobretudo devido ao estilo de vida, rotinas diárias de trabalho. Os homens admitem mais que têm menos desejo do que gostariam, mas queixam-se sobretudo quando há problemas de ordem funcional.
Numa altura em que as pessoas procuram mais ajuda quando têm problemas sexuais, a resposta no sector público tem vindo a diminuir. "Há um desinvestimento nesta área. Verifica-se sobretudo que nos últimos cinco ou seis anos o número de terapeutas sexuais caiu muito nas consultas públicas", avança.
Se hoje há dez consultas de sexologia, oito delas em hospitais (ver caixa), "há ao todo cerca de 20 a 30 especialistas no País, o que significa que houve uma redução superior a um terço nos últimos anos". Um exemplo é o hospital Júlio de Matos, onde havia 10 a 20 técnicos a dar resposta e hoje dois ou três. "Esta consulta está em risco de desaparecer", lamenta. Outro caso referido por Pedro Nobre é o dos Hospitais Universitários de Coimbra, que passaram a ter três ou quatro quando tinha 10 ou 12 pessoas.
Além do desinvestimento dos hospitais, relacionadas com a sua reorganização, há um problema de distribuição geográfica das consultas. Apesar de haver consulta em Guimarães, as restantes "estão no Porto, Lisboa e Coimbra. E as pessoas procuram. Acontecia- -me receber pessoas do Alentejo e de Trás-os-Montes quando fazia consulta em Coimbra".
Via DN