Sexo sim, somos gregos
Sim, ainda é possivel fazer um filme sobre a chegada à idade adulta que evite os lugares-comuns todos (e mais alguns de que não nos lembrávamos). Não é obrigatório que seja grego, mas visto o tom seco, directo e desconcertante que o cinema helénico tem revelado recentemente, a nacionalidade ajuda muito. Basta ver como “Attenberg” (competição) começa com uma lição de beijo falsamente lésbico, dá a lugar a imitações de animais inspiradas pelos documentários de vida selvagem da BBC de Sir Richard Attenborough, e é interrompido a espaços por coreografias rigorosas e rígidas ao ar livre.
Tudo isto, contudo, são pistas falsas. O que interessa a Athina Rachel Tsangari é outra coisa: desenhar o confronto de Marina, 23 anos, com a idade adulta à beira de arrombar a porta da sua vida. Marina nunca beijou, nunca fez sexo, o desejo mete-lhe nojo, não quer ter namorado porque tem medo que a sua melhor amiga lho roube; tem um emprego sem futuro como motorista numa fábrica local, da mãe nunca saberemos se partiu se morreu, o pai arquitecto está doente em estado terminal.
Ao som dos Suicide e de Françoise Hardy, filmando com um formalismo geométrico, rígido, para melhor desenhar o estado de alma desta rapariga aprisionada num mundo que ainda não compreende, Tsangari assina um filme controladíssimo e desarmante. Uma boa surpresa, confirmando que há alguma coisa a mexer no cinema grego, depois do divisivo “Canino” (cujo realizador, Yorgos Lanthimos, é aqui actor e produtor).
Via Público