Os mistérios e segredos dos gémeos
Todos temos um património genético único. Todos menos os gémeos verdadeiros, aqueles que são como uma gota de água, por partilharem o mesmo ADN. Diabolizados ou endeusados ao longo dos tempos, a similitude de dois seres humanos sempre intrigou o resto dos mortais.
"Quando eu vivia no Gabão, chamavam-me 'la maman des jumeaux'", conta-nos Paula Pimentel - mãe de Gastão e António, os adolescentes da nossa história -, explicando que, naquele país, uma mulher que gera dois filhos em simultâneo é considerada a mãe de todos os gémeos do mundo.
A gemealidade tem uma carga mágica tão grande que em certos países de África, até à primeira metade do século XX, o nascimento de gémeos era considerado um acontecimento diabólico e à nascença sacrificava-se o mais fraco.
Para Paula, que tem quatro filhos, a educação dos gémeos foi um processo consciente no sentido de contrariar a tendência de se poderem transformar na dupla Dupont&Dupond. "desde o início é fundamental saber distinguir as personalidades, e isso não é nada óbvio", diz, exemplificando: "O Martim, que nasceu a seguir, quando se zangava dizia: 'Os Antónios bateram-me!' Esta é uma boa metáfora do que é ter na família filhos fisicamente quase iguais".
Nos álbuns das fotografias de infância dos gémeos, nem eles nem os outros sabem distinguir quem é quem. Eis outra imagem que nos pode dar a dimensão do que poderá ser iniciar a vida em par.
Quando nasceram Helena e Anunciação - irmãs muito loiras e esguias que atravessaram meio século como duas figuras ao espelho - o estudo da psicologia e da pedagogia ainda dava os primeiros passos e o cuidado específico com a educação dos gémeos não era tido em conta. Nelas, as semelhanças foram alimentadas em detrimento das diferenças. Ainda hoje formam um núcleo tão cerrado que sentem nunca ter cortado o cordão umbilical.
Miguel e Madalena, "irmãos de útero", como dizem a brincar, são gémeos bivitelinos, formados a partir de dois óvulos. Olhando-os, vemos apenas dois irmãos com as suas diferenças físicas, a começar pelo sexo. No entanto, também eles cresceram como um núcleo uno e tiveram de aprender a libertar-se das amarras invisíveis da sua imensa complementaridade. Nas suas vidas de adultos, independentes e separados, nunca perderão a inexplicável sensação de estarem sempre em companhia.
Verdadeiros ou falsos, os gémeos continuam a ser um mistério. A circunstância natural da sua gestação ainda não é totalmente explicada pela ciência. Durante o século XX, inúmeros estudos sobre o tema alimentaram discussões apaixonadas sobre a natureza genética e psicológica dos gémeos e a ocorrência deste nascimento é celebrada em vários pontos do planeta, onde milhares de pares se juntam anualmente para falarem sobre a experiência desta cumplicidade intrigante.Gastão e António Pimentel Guerreiro, Madalena e Miguel Wallenstein, Helena Pilar e Anunciação Ricardo. Seis histórias singulares, contadas na primeira pessoa.
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Via Expresso