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Um olhar sobre o Mundo

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10
Jul10

Cromos. Como acabar a caderneta do Mundial

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Cromos, como acabar a caderneta do mundial

 

Na porta da papelaria Riscos e Rabiscos, no centro comercial do Campo Pequeno, em Lisboa, letras azuis rabiscadas numa folha A4 avisam: "A partir de 1 de Julho não haverá mais troca de cromos." Mas isso não parece desencorajar quem procura o jogador que lhe falta para acabar a caderneta do Mundial-2010. Os bancos do corredor em frente nunca estiveram tão cheios como nos últimos dois meses - nem mesmo quando toda a gente queria provar os cupcakes do centro comercial. "Quando acabámos com os cromos, as pessoas continuaram a encontrar-se aqui em frente para fazer trocas", explica Ricardo, responsável pela papelaria. "À hora de almoço, o corredor fica cheio." 

Enquanto dois miúdos jogam futebol com um chinelo a fazer de bola, as suas mães, sentadas num banco, trocam cromos dos verdadeiros craques. Estão demasiado concentradas na lista dos autocolantes em falta para conversarem com o i. Ao lado, Gonçalo Santos, de 30 anos, espera pela sua vez para tentar arranjar os seis cromos que lhe faltam. "Só hoje já troquei aqui cem", conta. "Quem me falou disto foi um senhor que conheci numa troca de cromos no Colombo." Pedro Rodrigues, de 45 anos, também teve sorte na colheita: "Só me falta o 100 [o francês Ribéry]. Costumo trocar numa papelaria em Queijas, mas hoje vim aqui." 

Depois do anúncio na porta, Ricardo, da papelaria do Campo Pequeno, suspirou de alívio. "Antes as pessoas deixavam aqui as listas e os cromos repetidos. Era troca por troca e um bocado à confiança", explica. No início eram só dez coleccionadores, os clientes da casa, mas depressa começaram a aparecer centenas de pessoas de todas as partes da cidade. "Era uma grande confusão."

Manuel dos Cromos

Aos domingos, no Mercado da Ribeira, em Lisboa, Manuel Santos, de 58 anos - ou "Manuel dos Cromos", como é conhecido - tem as suas manhãs de trabalho mais calmas. Desde 1974 que troca e vende cromos junto à Estação do Rossio, depois de ter ficado desempregado. Ao fim-de-semana tem uma banca na feira de coleccionismo do Mercado da Ribeira, ao lado de uma compilação de pacotes de açúcar e de outras raridades. "No Rossio tenho o dobro da afluência que tenho aqui", diz logo a seguir a vender perto de 20 cromos, a 30 cêntimos cada. Quem não quiser gastar dinheiro pode trocar um cromo de Manuel - que este ano nem teve tempo para fazer a caderneta - por quatro repetidos. "É por isso que fico com muitos", explica Manuel. "Só comprei duas caixas no início e ainda tenho o dobro disto em casa", diz, enquanto pega num paralelepípedo de madeira repleto de cromos. "Em casa tenho também prateleiras cheias só com cromos de outras colecções."

Novato dos cromos

Na banca ao lado está um vendedor mais novo que prefere não se identificar. "É a primeira vez que vendo cromos", confessa. Também ele foi levado pela febre da caderneta do Mundial, "um fenómeno que não tem explicação lógica". Nem mesmo o facto de a empresa italiana Panini ter distribuído gratuitamente as cadernetas. O mesmo já tinha acontecido com a colecção do Europeu de 2008. 

"No trabalho toda a gente troca cromos, desde o patrão ao contínuo", diz o vendedor. "Há pessoas de 40 anos que vêm ter comigo para acabar a caderneta e nunca na vida tinham comprado cromos, embora esta seja a caderneta mais cara de sempre." Com 640 cromos, a 60 cêntimos cada carteirinha, se nunca lhe calhasse nenhum repetido gastaria 76,8 euros para acabar a colecção do Mundial. 

Recentemente, a Panini pôs à venda um pack que custa 5 euros, com 80 cromos para colar em cima dos originais na caderneta. A lista de cromos é decidida em Fevereiro e, nessa altura, a convocatória de jogadores ainda não foi feita e por isso há cromos de jogadores que nem participaram no Mundial - como é o caso de João Moutinho.

Cromos virtuais

Há dois anos, Américo Almeida, desenhador técnico de arquitectura de 45 anos, criou o site www.trocacromos.com. "Antes do site, só havia alguns fóruns dispersos para coleccionadores", diz. Para participar nos tópicos de conversa do fórum (como "Troca urgente... centenas de repetidos") é preciso estar registado. "Nesta semana vamos atingir os 3 mil utilizadores activos", revela Américo que já colecciona cromos desde miúdo. "Os utilizadores combinam as trocas em mensagens e depois encontram-se", explica.

No site fala-se de outros temas, como por exemplo qual o cromo mais difícil de encontrar. "Comprei mais de 200 carteiras e nunca me saiu o Cardozo e o Ronaldo", diz um utilizador. Outro responde: "O Ronaldo [tal como o Messi] só foi lixado para si e para mim também, porque o pessoal não o põe na lista de trocas." Manuel dos Cromos já não consegue dizer quais os mais difíceis. "Mas no início eram o Cardozo e o Di María."

 

Via ionline

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