Falemos de striptease
Bastet é apenas a mais recente stripper a aventurar-se no mercado editorial. Os livros deste novo género são úteis para quem tenha vergonha de ir a um clube de strip ou a um bar de alterne e queira saber como funcionam. Escolhemos aqueles que poderá encontrar mais facilmente nas livrarias. "Só Deus Me Julgará", de Bastet, e "Amanhã à Mesma Hora", de Leonor Sousa, falam do mundo dos clubes de strip. "Alugo o Meu Corpo", de Paula Lee, é um relato sobre prostituição num bar de alterne.
São poucas as diferenças entre a Grécia e uma mulher em vias de entrar no mundo do striptease. O corpo é belo e admirado por todos, mas as dívidas são exorbitantes. A diferença é que, no caso das strippers, estar de tanga é parte da solução e não do problema. As garotas de programa vão mais longe. São uma espécie de Grécia que não só convida turistas mas também admite vender partes do território à Alemanha. Strippers e garotas também são um óptimo exemplo para a economia. Não basta reduzir a despesa, é preciso investir para depois ter retorno. Depilação, manicure, pedicure e roupas são investimentos avultados, mas as strippers têm de aparecer deslumbrantes perante os clientes ou fazem figura de Grécia perante os mercados: uma senhora com excesso de peso e buço, a quem é recomendado um plano rigoroso de emagrecimento. Depois de consertado o estado pessoal da economia, as senhoras tentam capitalizar o sucesso escrevendo testemunhos sobre os próprios casos. É uma receita idêntica à de João Rendeiro, só que o único sucesso deste foi um banco falido. Se continuarem a escrever a este ritmo, dentro de cinco anos a Feira do Livro estará a abarrotar de strippers, e clubes como o Champagne anunciarão espectáculos de Lídia Jorge e Gonçalo M. Tavares. No entretanto, surge um glossário muito particular desta área:
Arte Segundo Bastet, a arte do striptease não é devidamente apreciada pelos clientes. Depois de quatro whiskies ninguém fica em condições de ver, quanto mais de apreciar arte, a menos que os urinóis sejam inspirados em Duchamp. E por muito boa que seja uma obra de arte, expô-la ao som de Joe Cocker retira-lhe alguma dignidade.
Camarins Nos camarins o ambiente é de guerra fria. Há sempre uma heroína solitária contra uma cortina de ferro atrás da qual se escondem checas, russas e romenas. Quando Leila confidencia que, contra todas as regras, se envolveu sexualmente com um marine, nós percebemos. Ela não estava a ser ingénua, estava a pedir ajuda à NATO.
Clientes Bastet chama-os de "carneiros". Refere que o clube de strip onde trabalhava era frequentado por futebolistas, empresários e até um padre. São os maus da fita mas merecem a nossa simpatia. Se antigamente o maior risco que corriam era o de uma rusga policial que lhes estragasse a noite, agora podem acabar como personagens literárias.
Crise Bastet fala do tempo em que as strippers podiam ganhar 75 euros por noite. E agora? Será que há clientes que levam champanhe em termos? Será que algumas raparigas, que nem sequer têm dinheiro para a roupa, são por esse motivo obrigadas a reduzir o espectáculo para metade?
Estreia O primeiro cliente de Paula Lee foi um homem de 90 anos. Ainda bem que há padres que frequentam estes ambientes porque nunca se sabe quando é que alguém vai precisar da extrema-unção.
Inícios Leila descobriu que queria ser stripper quando, por acaso, viu um show de strip num canal pornográfico e pensou que também podia fazer aquilo. No fundo é o que todos sentimos quando vemos o Hélder Postiga em campo. Na altura, Leila nem sabia o que era uma table dance.
Bastet sempre quis ser bailarina e mostrar a alma, mas nem mesmo o elevado número de strippers russas transforma um clube de strip no Bolshoi. Um clube de strip em que as dançarinas mostrassem as respectivas almas não parece uma má ideia. O problema seria arranjar quem lhes fizesse a depilação.
A primeira experiência de Paula Lee no negócio do sexo foi no Sexphone, ainda no Brasil. Veio para a Europa, não só para um campeonato mais competitivo, mas também para um desporto diferente: alugar o corpo.
Nomes Num mundo de fantasia e erotismo estão proibidos nomes como Cesaltina ou Maria do Amparo. A stripper Bastet (pseudónimo) optou por Barbie Cinderela, um nome que só pode entusiasmar quem estiver à procura de uma boneca insuflável, de um travesti ou de ambos. Leonor Sousa, que no diário é Leila, escolheu como nome artístico Gabriela, de inspiração amadiana. Paula Lee (pseudónimo), transformou-se em Letícia. Quem pensa que a heteronímia pessoana é complexa, nunca leu estes livros.
Política A ideia de que as strippers não têm consciência política é errada. Bastet conta como não sentia qualquer remorso em sacar o que podia a políticos africanos. É verdade que também o fazia aos outros clientes, até aos que não sabiam soletrar a palavra "cleptocracia", mas sem a mesma carga de justiça poética.
Show Lésbico Espectáculo através do qual as strippers contribuem para uma sociedade mais tolerante e menos preconceituosa, baseada no respeito pela orientação sexual de cada um.
Títulos "Só Deus Me Julgará" é o equivalente ao futebolístico "o futuro só a Deus pertence". "Amanhã à Mesma Hora" também remete para o futuro, embora mais próximo, e com uma promessa de pontualidade que poderá confundir as mentes lusitanas. "Alugo o Meu Corpo" pode levar ao engano aqueles que esperam um ALD.
Via ionline