O mundo voyeur do Facebook
Ela: Já reparaste naquele giraço que ultimamente tem aparecido por cá?
Eu: Sim, já tinha visto. Simpático?
Ela: Se é simpático não sei. Mas chama-se Vasco, tem 37 anos, trabalha como consultor, gosta de equitação e vê lá bem: também esteve no Peru o ano passado como eu. Tem fotos fabulosas!
Eu: Mas já saíste com ele?
Ela: Não. Mas já lhe cusquei o Facebook todo, é claro!
É oficial: as mulheres que me rodeiam (e pelos seus relatos, também as que as rodeiam a elas) andam armadas em Sherlock Holmes da Internet. Antes de qualquer encontro, usam o Google como arma de pesquisa. Basta um nome... et voila! Chega-se ao perfil no Facebook, à página do Twitter, ao currículo no Linked In, ao blogue das confissões pessoais, a documentos profissionais em formato PDF que acabam invariavelmente escarrapachados na Internet.
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Guerra emocional online |
Instala-se a paranóia e vejo mulheres que sempre tive como inteligentes e maduras a caírem nas malhas das redes sociais, numa busca fria e calculista por informações. Profissões, idades, grupos de amigos, signos astrológicos (obviamente!): Um mar infindável de informação à distância de um clique... e das curiosidades mais aguçadas. Para quê um primeiro encontro de descoberta, quando se pode não correr riscos, sabendo tudo por antecipação em frente a um computador? "Ridículo", diria eu. "Também o fazes", diriam os que me conhecem.
Tudo se descobre... mesmo o que preferiamos não saber
Muito se critica o voyeurismo... mas a palavra privacidade parece estar a perder o sentido rapidamente. Nem mesmo os que protegem os seus perfis com as opções de anonimato escapam ilesos. Enfim, no mundo virtual tudo se acaba por descobrir... mesmo aquilo que preferíamos não saber.
Na "guerra emocional online" deixam-se comentários com duplo sentido. Músicas com recadinhos escondidos. Fotografias que, propositadamente, poderão provocar ciúmes. Há, claro, também a solidariedade entre amigas: "descobri com quem é que ele anda a sair... fizeram-lhe um tag numa foto em que ele estava com ela", já ouvi eu umas quantas vezes. Ou melhor ainda: "Ele mentiu-te! Não viste que o amigo comentou que afinal tinham estado a ver a bola em casa do não sei quantos naquela noite?".
Será um sinal da profunda insegurança das mulheres? Simplesmente curiosidade? Ou quem sabe... pura futilidade? Perguntei a um homem o que achava disto e resposta apanhou-me desprevenida: "Não te preocupes... Nós fazemos exactamente o mesmo". E esta, hein?