Sexo e gravidez
Estudo do Hospital de Santa Maria mostra que a sexualidade na gravidez gera muitas dúvidas e que um quarto das mães temeu os efeitos da penetração.
Medo de magoar o bebé, receio de um aborto espontâneo e de um parto prematuro, redução do desejo, dor, dificuldades em ter lubrificação ou em atingir o orgasmo foram os problemas mais referidos pelas mães para durante a gravidez terem reduzido o número de relações sexuais. Ainda assim, 39 por cento das mulheres disseram que tiveram relações na semana antes do parto, segundo dados recolhidos por investigadores do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
O estudo conduzido pela médica Joana Rocha Pauleta, do serviço de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução do Hospital de Santa Maria, agora publicado no The Journal of Sexual Medicine, contou com 188 mulheres dos 17 aos 40 anos que deram à luz nesta unidade de saúde e permitiu concluir que 25 por cento das mulheres recearam que a penetração vaginal prejudicasse a gravidez. Três das participantes suspenderam mesmo as relações sexuais até ao momento do nascimento do bebé, apesar de os médicos insistirem que numa gravidez sem riscos as relações sexuais não trazem qualquer problema.
Joana Rocha Pauleta sublinhou em declarações ao PÚBLICO que, apesar das dificuldades, 89 por cento das mulheres não sentiram necessidade de falar com o médico sobre o problema que estavam a ter. "Em geral as pessoas em Portugal têm muita dificuldade em abordar as dificuldades sexuais e são raras as doentes que vêm ter connosco por iniciativa própria. Há muito trabalho a fazer neste campo", admitiu. A médica contou também que foram bastantes as recusas em participar no estudo anónimo, pelo que "os resultados podem ser ainda mais elevados se partirmos do princípio que as pessoas mais abertas são as que responderam".
A perda do desejo sexual foi outro dos factores apontados por 25 por cento das mulheres e 42 por cento responderam que se sentiram menos sensuais. No que diz respeito às diferenças por trimestre, o estudo - distribuído em 2008 às mães no dia em que tiveram alta da maternidade - permitiu perceber que foi no terceiro trimestre da gravidez que houve uma maior mudança na actividade sexual, com 55 por cento das mães a dizerem que reduziu. Ainda assim, dez por cento admitiram que tiveram mais relações nesta altura. O primeiro trimestre é aquele em que as mulheres dizem ter tido uma maior actividade (45 por cento), seguido do segundo trimestre (36 por cento).
O sexologista Abel Santos defendeu que é importante explicar ao casal que a gravidez deve ser encarada com naturalidade, mas insistiu que "forçar a sexualidade é claramente negativo e pode pôr em causa as relações pós-parto", uma altura em que "passa a existir mais um membro da família que requer muita atenção dos pais e muitas noites sem dormir". E acrescentou: "É por estes e outros motivos que o casamento é uma aventura exigente a dois que requer muito empenho e amor para ser bem-sucedido".
Via Público