O círculo restrito do doping e da homossexualidade
"Sim, há homossexualidade no desporto, e daí? Também há doping e cocaína. Eu nunca tomei, mas conheço tenistas que snifam só por diversão", disse Flavia Pennetta, tenista italiana, que este domingo conquistou o título da Fed Cup (versão feminina da Taça Davis), com uma vitória frente à norte-americana Melanie Oudin pelos parciais de 7-5 e 6-2.
As declarações caíram como pedras num charco já de si agitado. E a polémica instalou-se quando Francesca Piccinini, jogadora de voleibol, decidiu seguir o exemplo da primeira e, no mesmo talk-show da televisão italiana, o "Le Iene", apimentou ainda mais a situação. Já ninguém queria saber dos escândalos no desporto, apenas dos detalhes mais íntimos da vida sexual das duas atletas. "O voleibol está repleto de homossexuais e já fui assediada por outras mulheres. Aliás, já é um hábito olharmos para o corpo umas das outras nos balneários." E continuou com os pormenores sórdidos dando indicações de qual era a melhor maneira de fazer sexo num elevador ou dentro de um Smart. "Só não gosto de algemas. Nem de ver o meu namorado com o equipamento com que entro em campo. Já experimentamos e não achei muita piada." As restrições apareceram apenas no capítulo do doping. "Não há doping, não precisamos disso para nada", e rematou o assunto, como quem bate o pé. Se no exército espartano os soldados se podiam apaixonar uns pelos outros, porque assim fortaleciam o espírito de equipa e jamais um soldado deixaria o amante para trás, hoje em dia, não vê por que não pode ser da mesma forma.
Tânia Couto, ex-tenista e comentadora, contou ao i algumas situações que presenciou durante os anos de competição. "A homossexualidade era um tema bastante comum na-quela altura. Eram assuntos falados à porta fechada. Toda a gente sabia que eles existiam e quem não os queria, não os procurava", diz a antiga tenista. "Cheguei a ser alertada para não ir a determinadas festas. Havia sempre um grupinho de mulheres mais velhas que deitavam as mãos às miúdas mais novas. Por exemplo, disseram--me para não ir a festas da Jana Novotná. Ela era completamente assumida", ri Tânia Couto, explicando que a situação nunca se tornou desagradável. "Ninguém forçava ninguém. Era tudo muito simples, quem queria, aceitava." A tenista explicou ainda que antigamente os riscos eram maiores. "Nós viajávamos sozinhas, ficávamos mais vulneráveis, só recentemente é que as tenistas começaram a viajar com os pais e com os treinadores. Há toda uma comitiva que as acompanha."
Mais uma vez o doping não parece ser um tema consensual. "Falava-se muito pouco de doping. Mas existia, claro. Havia muitas mulheres com traços bastante masculinos e o ritmo da competição, por vezes, é muito difícil de aguentar. Acredito que muitos tenham recorrido a substâncias ilícitas, como confessou o Agassi, por estes dias. É muito injusto, mas a verdade é que há 15 anos as coisas não eram tão controladas. Eu, por exemplo, nunca fui a um controlo antidoping."
Via ionline