Modelismo: brincar aos barcos é assunto sério
A lista de espera para os cursos de modelismo de arqueologia naval no Seixal já vai em 60 alunos. Aqui não se fazem barquinhos com fósforos. É um hobby à séria, com rigor e história
Não há lugares suficientes para a quantidade de carros que estão no Núcleo Naval do Ecomuseu Municipal do Seixal, na Arrentela. Procuramos bloquear o menor número de automóveis e respiramos de alívio porque a EMEL não ataca aqui. Terminamos a tarefa entalando apenas três carros. Pelas janelas da casa de madeira vemos um grupo de pessoas concentradas a lixar madeira e a colar com precisão pequenas peças. O avô do Pinóquio ia roer-se de inveja desta oficina. Mas aqui não se fazem brinquedos de miúdo. Tudo é feito à escala matemática e dois mundos distintos, o modelismo e a arqueologia naval, demonstram que os casamentos são possíveis.
Alunos com batas, outros com lápis atrás da orelha, estão em pé à volta da mesa de trabalho repleta de objectos de carpintaria. O professor Carlos Montalvão anda pela sala a esclarecer dúvidas. No meio do grupo destaca-se uma senhora elegante, de cabelos claros e mãos finas. Margarida Gaia é a única mulher do curso de modelismo de arqueologia naval e está tão concentrada que mal dá pela nossa chegada. Na outra ponta da sala, está o ex-ministro da comunicação social do V Governo Constitucional, João António Figueiredo. Reformado, com 74 anos, gosta tanto do curso que em casa está a fazer outro barco. "Isto é viciante. Construir uma obra destas a partir de uma tábua de madeira, é fascinante. Comecei a fazer um bacalhoeiro quando era novo. Depois deu-se a guerra, fui para Angola e nunca mais voltei a isto."
Desde 2009 que se realizam os cursos de modelismo de arqueologia naval no Ecomuseu Municipal do Seixal. Todos com lista de espera. Este é o terceiro e ficaram de fora 60 alunos. Jorge Raposo, chefe de Divisão do Património Histórico e Natural da câmara, explica-nos que ali funcionava um antigo estaleiro e que os cursos são um aposta do município. "É importante manter o museu como um espaço dinâmico. As pessoas aderiram muito bem."
http://modelismo-e-arqueologia.blogspot.com/ e www.cm-seixal.pt/ecomuseu
Via Ionline