Gostam do risco. A adrenalina de serem apanhados em flagrante leva-os a procurar os lugares mais improváveis para fazer sexo. O limite pertence à imaginação de cada um: há quem o faça no cinema, em vestiários de lojas, parques de estacionamento ou transportes públicos.
Flávia (nome fictício) e o namorado já perderam a conta à quantidade de vezes que praticaram sexo em público. "Muitas vezes nem se trata de estarmos na rua, proporciona-se", explica esta bancária de 35 anos. "Para mim é mais uma questão de fugir à rotina, o sexo não tem de ser sempre em casa, na cama ou num sofá. E mesmo em casa podemos apimentar a coisa abrindo, por exemplo, as janelas." Foi o que aconteceu em 2006, quando vivia em Campolide, Lisboa. "Tínhamos um vizinho que estava sempre de binóculos. Numa noite tive a sensação de que ele estava a observar a nossa casa e resolvemos provocá-lo".
Há dois anos, Flávia quase foi apanhada em flagrante num farol da linha de Cascais. "Era de noite, estava a vestir-me quando comecei a ouvir vozes. De repente, surgiram dois pescadores que tinham estado nas rochas do pontão. Não viram nada, mas devem ter ouvido", conta, entre risos. Quando lhe perguntámos qual a situação mais extravagante por que passou, a resposta é imediata: o vestiário de uma loja. "Fizemos duas vezes e, na segunda, acho que fomos topados pelas funcionárias", recorda. A relação sexual não durou mais de 15 minutos, mas foi interrompida pela voz de uma das funcionárias que comentava com a outra: "Eu não vou lá bater".
Flávia fala abertamente sobre o tema e assume sem reservas que sempre foi "muito sexual". O facto de estar num local público nunca condicionou a vontade. Pelo contrário. "Sou Touro, e tenho Vénus como planeta regente. Sou assim."
Muitos dos amantes do sexo em público são também voyeuristas e exibicionistas. Entre estes, há uma cultura específica com o nome de dogging, que na prática traduz as aventuras sexuais de casais e singles (alguém sozinho no momento, não necessariamente solteiro) com várias pessoas a assistir. O fenómeno nasceu em Inglaterra mas rapidamente se alastrou a outros países da Europa. Em Portugal, a comunidade dogger não tem a expressão de países como o Brasil ou Nova Zelândia, mas há quem organize encontros clandestinos, combinados previamente na internet, onde abundam fóruns e blogues dedicados ao tema.
A explicação mais popular para o dogging refere-se ao álibi de quem sai à rua para passear o cão e esconder as aventuras ao ar livre. Apesar de Portugal não figurar ainda no portal outdoorlovemap.com, onde os amantes desta fantasia revelam os melhores locais para fazer sexo ao ar livre, na comunidade nacional há inúmeros sítios assinalados. Normalmente, são parques de estacionamento conhecidos pela movimentação nocturna de casais de namorados. Não os confundamos, contudo, com os doggers: nem todos os frequentadores destes locais estão dispostos a exibirem-se para os voyeurs. Há quem queira simplesmente passar um bom momento a dois, longe dos olhares indiscretos.
Para não serem confundidos, ou perturbar outros casais, os doggers têm sinais que lhes permitem ser identificados entre si. Quando chegam a um parque de estacionamento, depois de combinarem o encontro pela internet, os participantes anunciam a sua presença ligando os quatro piscas. "Se alguém responder com o mesmo sinal, significa que está disposto a alinhar no jogo", explica um dogger português. Os códigos variam: há casais que deixam os mínimos ligados ou a janela aberta, dando a entender que esperam alguém. Em Inglaterra, por exemplo, os exibicionistas estacionam o carro e acendem a luz interior do veículo.
Depois de fazerem o reconhecimento, os carros são estacionados lado-a-lado e o jogo começa. Na maior parte dos casos, dogging consiste em estimular e explorar o voyeurismo de quem assiste e o lado exibicionista de quem se expõe. Para os casais que decidem partilhar a sua performance sexual em público, a excitação está exactamente do lado de fora, em quem observa. "O jogo de sedução é diferente e muito excitante", explica um dogger. Por outro lado, diz outro adepto desta fantasia, "o facto de serem quase sempre desconhecidos garante a privacidade e protecção de identidade necessária neste tipo de aventuras".
O contacto físico não é obrigatório: um olhar entre os vidros embaciados pode ser suficiente para apimentar uma relação sexual. Mas há casos de singles, quase sempre homens, que são convidados a participar. Por uma questão de segurança, os participantes evitam revelar na net os locais onde estas sessões acontecem. E é também frequente os utilizadores publicarem mensagens sobre mirones indesejados que povoam estes locais. O "dogging e carparking", lê-se no fórum, "embora sejam actividades praticadas em locais públicos, são sempre momentos privados de casais e singles que decidem partilhar a sua performance sexual perante outro". E, se o facto de estar perante desconhecidos funciona como um estimulante, também aumenta o risco. "Estar envolvido com o outro, concentrados no que estamos a fazer e a assistir, muitas vezes totalmente nus, torna-nos vulneráveis a muitos perigos", escreve um casal.
No cinema Jorge (nome fictício), outro amante do sexo em público, nunca fez carparking mas confessa que a ideia é "excitante". Mais do que ter gente a observar, este jovem de 26 anos admite que o risco é um afrodisíaco de peso forma como vive o sexo. Há mais de três anos que tem uma relação estável e concretizou recentemente uma fantasia há muito esperada: fazer sexo no cinema. "Tínhamos bilhetes para a sessão da meia-noite, num centro comercial conhecido de Lisboa", conta. Sentaram-se numa das filas de trás e resolveram arriscar. "Não estavam mais de 20 pessoas, correu bem. O filme era chato."
Via Ionline