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Um olhar sobre o Mundo

Porque há muito para ver... e claro, muito para contar

Porque há muito para ver... e claro, muito para contar

Um olhar sobre o Mundo

16
Nov10

Nuas para combater o analfabetismo

olhar para o mundo

Nuas para combater o analfabetismo

 

"Estão mesmo nuas. Não estava nada à espera." A reacção é dos participantes de uma sessão de leitura de contos infantis, poesia e ficção científica quando se deparam com uma fila de mulheres sem roupa a declamar. É que quando pensamos numa sessão de leitura nunca a visualizamos tão arejada. O que nos vem à cabeça é uma biblioteca enorme, com um silêncio sepulcral e pessoas com óculos na ponta do nariz e voz de rádio. Nada mais longe da realidade. Quem vai assistir a uma sessão das Naked Girls Reading (Raparigas Nuas a Ler) encontra um grupo de raparigas de livros na mão, saltos altos e mais nada. Mesmo mais nada. Roupa? Nem vê-la. 

"Quem nos vem ver adora. Não sabem muito bem o que esperar, mas recebem um espectáculo à altura do que pagam [cerca de 20 euros], o que é gratificante. Eles ficam entusiasmados com a literatura e com mais vontade de ler", explica-nos por email a fundadora do grupo, Michelle L''Amour. Será este o melhor remédio para quem não tem paciência para ler?

Burlesco

O objectivo do clube era muito simples: "Criar um salão para estimular as pessoas em muitos níveis, com mulheres bonitas, literatura bonita e uma atmosfera bonita", diz Michelle ao i. A ideia da stripper do burlesco e do escritor e fotógrafo Frank Vivid tornou-se realidade há um ano e meio, em Chicago, nos EUA.

A primeira sessão foi no "Studio L''amour", de Michelle, mas o clube literário já chegou ao Canadá e está espalhado por várias cidades norte-americanas, como Los Angeles, Nova Iorque ou Dallas. "Estamos a tentar chegar ao Reino Unido, mas há alguns problemas legais." Provavelmente por estarem nuas num local público, acrescentamos nós.

No menu literário das cinco meninas - além de Michelle, fazem parte do clube veterinárias, designers e bibliotecárias - estão livros como "O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde", de Robert Louis Stevenson, "Diário de Anne Frank", "Lolita", de Vladimir Nabokov, "Onze Minutos", de Paulo Coelho e os livros de D. H. Lawrence e Anaïs Nin. As sessões são abertas ao público, mas têm o limite de 120 pessoas. Coisa pouca. Mas se por acaso está a pensar em inscrever-se para ser uma das jovens a ler sem roupa, não é fácil. "Nem toda a gente pode ler. Temos ensaios e muitas reuniões antes da sessão. Mas as mulheres adoram. Durante a sessão sentem-se livres e mágicas. É uma óptima experiência partilhar algo de que gostamos de forma apaixonada com uma audiência atenta", explica Michelle. 

Mas a dúvida persiste. Quem vai a uma sessão destas liga alguma coisa à literatura? "Acho que as pessoas estão atentas às duas coisas. A minha reacção preferida no público é quando as pessoas ficam espantadas por estarmos mesmo nuas. Rimo-nos imenso. É que está no título." O fenómeno já foi baptizado de genial e a "Time Out" nova-iorquina profetizou que a moda ia pegar. Michelle deixa o aviso: "Sabemos que os italianos gostam. Se calhar um dia destes ainda vamos a Portugal."

 

Via Ionline

07
Nov10

Quem tem medo de Lobo Antunes?

olhar para o mundo

Quem tem medo de Lobo Antunes

 

Amado por uns, odiado por outros, reconhecido por todos. Lobo Antunes é dos escritores portugueses mais respeitado dentro e fora de portas. Já António, o homem, poucos o conhecerão. Reservado, profundo, visceral, não lhe faltam histórias polémicas, que acabam invariavelmente nos jornais. Talvez ele nem as leia: não lida bem com a crítica e não gosta de dar entrevistas porque as considera irrelevantes. Mas, mais do que tudo, porque uma história de jornal nunca passa disso, de uma história, com toda a ficção e realidade que pode conter: "Sou arrogante, mal-educado, rebelde, geralmente sou sempre o António Lobo Antunes somado a qualquer coisa desagradável. Não corresponde a nada do que sou, a nada", disse em entrevista ao Expresso o autor de "Sôbolos Rios que Vão", o seu novo livro que acaba de ser editado.

Quando o jornalista do "Diário de Notícias" (DN) João Céu e Silva contactou pela primeira vez António Lobo Antunes, o escritor acedeu sem grande reserva ao pedido de entrevista. Dois dias antes do encontro mudou de ideias e recusou. "Disse-lhe que íamos publicar quatro páginas em branco apenas com a justificação dele. Ele acabou por ceder", recorda ao i o jornalista e autor de uma compilação de entrevistas ao escritor. No dia marcado para a conversa, à porta de sua casa, nova investida do autor. "Foi mal-educado, disse-me que não sabia quem eu era, como se quisesse dizer que eu não era ninguém. Não me deixei ficar e tive uma reacção muito violenta. Acho que foi isso que me fez conquistar algum respeito. Em vez de uma entrevista tradicional de 40 minutos, falámos mais de duas horas."

Foi dessa longa conversa que nasceu a ideia do livro, editado em 2009, pela Porto Editora. "Uma Longa Viagem com Lobo Antunes" é o resultado de dois anos de conversas entre o jornalista e o escritor. "Todas as sextas-feiras falávamos cerca de duas horas", recorda Céu e Silva. E embora o escritor seja um homem cheio de reservas nas conversas com jornalistas, não foi o que aconteceu com o repórter do DN. "Ele acha que as entrevistas não acrescentam nada, não justificam a perda de tempo", explica. Talvez tenha sido isso que o levou a desejar - e a verbalizar - o fim de uma entrevista feita por Anabela Mota Ribeiro. Na conversa, o autor de "Memória de Elefante" diz à jornalista que "desde que começámos que desejo que isto acabe". E acabou na pergunta seguinte. 

É possível que a frontalidade suscite os adjectivos que o autor não gosta que lhe colem - "sou arrogante, mal-educado, rebelde". Ou talvez explique as suas raras aparições públicas. Mas revela acima de tudo o homem reservado que se esconde por trás das páginas dos livros. "Não se desvenda facilmente. Mas quem lê os seus livros consegue apanhar-lhe as manias, os mitos, no fundo, muito dele", explica Céu e Silva. Seja como for, Lobo Antunes é um homem de poucas palavras - faladas - fora do seu círculo de pessoas próximas. Na rua onde vive, na tabacaria onde compra cigarros ou no café onde toma a bica, ninguém conhece mais do que a sua silhueta. "Falar? Sim, fala bastante. Nunca vem sozinho", brinca um funcionário de um dos restaurantes que o escritor frequenta, na Rua Gomes Freire. 

Paradoxalmente, o homem solitário que não lida bem com a exposição pública - "como cidadão praticamente não existo. Não frequento eventos, não participo em nada. Tenho uma vida muito solitária, muito fechada. Não faço vida social" - raramente deixa de dizer o que pensa, sem usar paninhos quentes. Sobretudo no que diz respeito à literatura. Quando José Rodrigues dos Santos lançou "A Vida num Sopro", o vencedor do Prémio Camões classificou o livro de "uma grande merda", confessando ficar "assombrado com pessoas que escrevem livros de dois em dois meses", num país "onde todos são escritores". 

Lobo Antunes é um autor disciplinado, que vive para a escrita e dificilmente consegue pensar noutra coisa quando tem um livro em mãos. "Uma vez perguntou-me o que é que eu achava que os portugueses gostavam de ler. Irrita-se e interroga-se com o facto de as pessoas não conseguirem entender os seus livros. E porque vende menos do que alguns escritores sem o seu génio. Nos momentos em que não consegue escrever, e tudo isso lhe vem à cabeça", acredita João Céu e Silva. 

É provável que um sentimento semelhante lhe provoque alguma crispação, sempre que lê uma crítica. Não que Lobo Antunes não saiba viver com ela - "nunca disse nada [a um crítico], posso não gostar mas nunca digo nada" - mas a verdade é que já deixou escapar várias vezes o seu desagrado. Em 2007, depois de um texto de Pedro Mexia sobre o seu livro "O Meu Nome é Legião", Lobo Antunes reagiu mal: disse não o conhecer e que "o homem não percebeu nada daquilo". A resposta não tardou: numa réplica publicada no seu blogue, Lei Seca, Mexia recorda o seu encontro com o autor, na Feira do Livro, quando este o elogiava e assinava um livro seu - "Para Pedro Mexia, porque gostei do seu livro".

A rivalidade com Saramago Uma das maiores polémicas alimentada nos jornais foi a suposta rivalidade entre José Saramago e António Lobo Antunes. Numa reportagem feita para o jornal "Tal&Qual", Frederico Duarte Carvalho vestiu-se de Pai Natal decidiu oferecer prendas a famosos. Um dos escolhidos foi José Saramago, que recebeu das mãos do repórter o "Livro de Crónicas" de Lobo Antunes. Na altura, especulou-se que o Nobel da literatura teria atirado o livro para o chão. Mas as palavras foram: "Tome, não aceito e considero isto uma provocação." 

Também o humorista Jel quis alimentar a polémica, quando Lobo Antunes se encontrava a promover um livro nos EUA. "Fiz-lhe uma entrevista na biblioteca pública de Nova Iorque, fazendo-me passar por um brasileiro que pensava que ele era o prémio Nobel português, Levou tudo na desportiva." 

Polémicas à parte, a verdade é que Lobo Antunes esteve cotado na lista dos eleitos da uma das principais casas de apostas para o prémio Nobel da Literatura deste ano. E serão poucos os escritores vivos com o seu génio. Em tempos, terá vivido o desgosto do Nobel de forma intensa. Há quem diga mesmo que "morreu durante alguns anos" por não ter ganho o prémio. Mas, se dermos como certa a praga de Saramago - que acreditava que nenhum autor português ganharia o galardão enquanto ele estivesse vivo - talvez se renove a esperança de ver novamente um português em Estocolmo. Se assim for, Lobo Antunes é o grande candidato.

 

Via Ionline

22
Out10

Sessões de literatura feitas por... mulheres nuas

olhar para o mundo

Totalmente nuas, de pernas cruzadas e em ambiente burlesco. É assim que o atrevido grupo literário Naked Girls Reading tem conquistado fãs entre os EUA e o Canadá, provando que aleitura não tem de ser uma coisa chata.

 

 

Quantas vezes entre o mundo dos saltos rasos que me rodeia ouvi a frase: "Não tenho paciência para ler. Odeio livros!". Para quem, como eu, ler é atividade sagrada nos tempos livres, esta falta de apreço pela leitura é um verdadeiro sacrilégio. Contudo, meus queridos amigos que acham os livros chatos, deixo-vos uma pergunta: e se uma mulher, totalmente nua, vos lesse um livro, continuavam a achar a leitura algo aborrecido?

 

Michele L'Amour é a autora da iniciativa literária sem roupa
Michele L'Amour é a autora da iniciativa literária sem roupa
Naked Girls Reading

Nos Estados Unidos e Canadá a ideia provocante ganhou forma (eu diria mesmo "formas") com o grupo literário Naked Girls Reading (Mulheres Nuas a Ler). Muito resumidamente, estas senhoras despem-se de preconceitos e sentam-se em frente à plateia - de pernas cruzadas! - para ler, desde os grandes clássicos a livros de terror e suspense. Para terem noção da variedade literária destas senhoras, pelas suas sessões já passaram trechos de obras tão distintas como o célebre "Diário de Anne Frank", "Lolita", de Vladimir Nabokov, e até mesmo "Onze Minutos", de Paulo Coelho.

E assim se criam novos hábitos de leitura

 

Criadas em parceria pela showgirl Michelle L'Amour e o pelo escritor e fotógrafo Frank Vivid, as Naked Girls Reading apresentam-se sempre num cenário burlesco, envoltas em glamour e boa disposição. Desenganem-se as mentes mais rebuscadas: a pornografia, essa ali não tem lugar.

Procuradas tanto por público masculino como também por feminino, as meninas da leitura sem roupa já passaram por mais de dez cidades entre os Estados Unidos e o Canadá. Numa altura em que a Internet ganha terreno e os hábitos de leitura estão cada vez mais baixos, este estímulo é de louvar. Contudo, fica-me uma pergunta na cabeça: será que nestas sessões alguém consegue realmente prestar atenção à história?

 

Ver os vídeos aqui

 

Via A Vida de saltos Altos

30
Set10

Livros gratuitos na escola Pública

olhar para o mundo

Manuais escolares gratuitos

 

A partir do próximo ano lectivo, as escolas públicas vão poder distribuir gratuitamente os manuais escolares aos alunos do ensino básico e secundário através de bolsas de empréstimos. O i apurou que PS e PSD vão viabilizar amanhã os projectos de lei do Bloco de Esquerda e do CDS-PP que permitem aos estabelecimentos de ensino criar um sistema de empréstimos acessível a todas as famílias, independente da sua condição socioeconómica.

Paula Barros, deputada socialista, diz que o PS "não vai fechar a porta" ao regime proposto pelo PP e BE e que a bolsa de empréstimos deverá ser implementada "o mais rápido possível". Significa isto que o governo está disposto a introduzir o novo modelo no início do ano lectivo 2011/12 e após uma avaliação que terá de ser feita pelas escolas.

Acarretar com os custos dos manuais escolares é "uma situação insustentável" para muitas famílias portuguesas e é essa a razão que o PSD apresenta para viabilizar as propostas dos dois partidos. Só falta saber se os sociais-democratas vão optar pelo voto favorável ou pela abstenção, mas o deputado Pedro Duarte garante que não vai colocar impedimentos aos projectos de lei do BE e do CDS: "Viabilizaremos o documento na generalidade para podermos depois discutir as propostas na especialidade, onde iremos dar o nosso contributo."

Apesar do consenso da maioria dos deputados no Parlamento, a Confap - a principal confederação das associações de pais, está contra a bolsa de empréstimos de manuais escolares por "acarretaremdemasiados obstáculos", avisa o dirigente Albino Almeida. O facto de os manuais do 1.o ciclo e de línguas estrangeiras incorporarem os exercícios, inutilizando os livros é a primeira dificuldade apontada pela confederação de pais. 

Mas o certo é que o projecto dos bloquistas impõe uma cláusula que visa obrigar os editores a elaborar os manuais sem incluir o respectivo espaço para a resolução dos exercícios, permitindo que voltem a ser usados. A proposta, que não consta no projecto do CDS, terá o apoio socialista: "A verdade é que o aluno deveria poder manusear o livro escolar, mas a proposta do Bloco parece um bom princípio", defende a deputada do PS.

Só que este não é o único argumento para a Confap recusar a modalidade de empréstimos de livros escolares. "Apesar de os livros vigorarem durante três ou quatro anos, a maioria das escolas muda os manuais todos os anos", assegura Albino Almeida, que diz ser preferível as editoras fazerem os manuais destinados a mais do que um ano lectivo.

"Elaborar livros que incluam os currículos do 1.o e 2.o anos, por exemplo, permitiria reduzir o seu número", defende o presidente da confederação, propondo criar também conteúdos multimédia para complementar os manuais: "Esse é o melhor caminho, uma vez que permite a actualização permanente dos conteúdos, possibilidade que não existe nos manuais", esclarece Albino Almeida, adiantando que essa experiência já acontece em mais de 30 municípios com um custo médio de nove euros por cada disciplina.

Bolsas de empréstimos não é novidade entre alunos e professores e boa parte das escolas já pratica essa modalidade, conta Adalmiro Fonseca, presidente da Associação Nacional dos Directores de Escolas e Agrupamentos escolares. "Gerir um sistema de empréstimo de manuais não é difícil para as escolas, mas é preciso criar mecanismos e dar autonomia às escolas para estabelecerem as suas próprias regras", remata o dirigente.

 

Via Ionline

09
Ago10

Isabel Allende: O ponto G está na orelha

olhar para o mundo

Isabel Allende e o Ponto G.

 

Pablo Neruda disse-lhe um dia que ela era péssima jornalista - mas, se não fosse ele, talvez a autora do best-seller Casa dos Espíritos não se tivesse dedicado à literatura

 

A literatura faz-se com pequenas mentiras umas atrás das outras e é por isso que a autora de A Casa dos Espíritos se tornou escritora e abandonou a carreira de jornalista. "Como jornalista não era muito boa", confessa a chilena Isabel Allende, que está no Brasil a lançar o romance histórico A Ilha sob o Mar, na 8.ª Festa Literária Internacional de Paraty, onde chegou de avião com o seu marido norte-americano, o advogado e escritor de policiais William C. Gordon. "Não conseguia ser objectiva, mentia todo o tempo, mas isso não são defeitos na literatura, esta faz-se de pequenas mentiras", diz Isabel Allende no palco da Tenda dos Autores, em Paraty, que está completamente a abarrotar.

Numa conversa conduzida pelo jornalista e escritor Humberto Werneck, que no ano passado conversou no mesmo palco com António Lobo Antunes, Isabel Allende conta que em 1973 vivia no Chile e em Agosto recebeu um telefonema do poeta Pablo Neruda. O Prémio Nobel da Literatura em 1971 pedia-lhe que fosse até à Isla Negra onde ele vivia. Nessa altura ele já estava doente e para Isabel era uma honra imensa que o Nobel a chamasse para o ir entrevistar. Dizia a si própria: "Sou a melhor jornalista do Chile por isso me escolheu a mim." Comprou um gravador novo, enfi ou-se no carro e foi vê-lo.

Tiveram um almoço chileno delicioso com vinho branco rodeados da sua colecção de garrafas e quadros. "Coleccionava quanta porcaria existia! Na altura aquilo no Chile era considerado lixo, hoje são peças de museu. Às três da tarde disse-lhe: ‘Pablo, começamos a entrevista? Tenho medo que fi que cansado.'" E o poeta respondeu-lhe: "Jamais aceitaria que me entrevistasses! És a pior jornalista deste país. Tu mentes o tempo todo. Passa a dedicar-te à literatura e todos os teus defeitos serão virtudes." 
Um mês depois, Pablo Neruda morreu. "Houve o golpe militar e 11 dias depois ele morreu. Dizem que morreu de pena, mas ele já estava muito doente. Depois disso fi quei pouco tempo no Chile e fui para o meu auto-exílio na Venezuela. Muitos anos mais tarde escrevi A Casa dos Espíritos como uma tentativa de recuperar esse mundo que havia perdido: a minha família, a memória do que tinha sido a minha infância, reunir todos aqueles que estavam espalhados pelo mundo e ressuscitar os mortos." 
"Somos muito fofoqueiras"

Se não tivesse saído do Chile, Isabel Allende talvez não se tivesse tornado escritora e continuasse a ser uma "péssima jornalista". Desde os 15 anos de idade que a escritora mantém uma correspondência quase diária com a sua mãe, que tem agora 90 anos. Em sua casa, nos Estados Unidos, existe um armário cheio de caixas de plástico, organizadas por anos e com toda a correspondência entre as duas. A mãe escreve-lhe todos os dias, à mão. "São cartas perfeitas, sem nenhuma correcção, num espanhol literário, perfeito. E por causa de toda a tecnologia moderna, eu respondolhe por e-mail e falamos por Skype. Mas dá-me pena, porque muitas das coisas se perdem." Foi com a ajuda destas cartas escritas ao longo de muitos anos que a escritora escreveu as suas memórias. Isabel tem um acordo com a mãe de que nunca ninguém vai ler essas cartas. "Ela não me escreveria o que me escreve, se pensasse que um dia outra pessoa iria ler. E eu tão-pouco. Somos muito fofoqueiras, dizemos mal de muita gente, contamos coisas muito privadas."

Sem querer ser indiscreto, o jornalista e escritor brasileiro Humberto Werneck, pergunta a Isabel Allende o que estava ela a fazer no dia 8 de Janeiro deste ano. E ela, com os seus olhos muito expressivos, pintados com eyeliner, respondeu-lhe: "Estava a escrever. A escrever um outro romance que está quase terminado e que será publicado no fi nal do próximo ano. Não me perguntes do que trata."

Desde 1981, ano em que escreveu A Casa dos Espíritos, a escritora chilena começa os seus livros no dia 8 de Janeiro com alguns rituais. E antigamente começava a escrevê-los na sua casa de Salsalito, que, como lembra Werneck, foi um bordel, uma igreja, uma fábrica de biscoitos e de chocolates e guardava todos os cheiros dessas actividades. Agora, Isabel Allende escreve numa casa pequena que existe no jardim de sua casa, a casa da piscina. Acende umas velas, faz meditação. "Dá-me sempre um pouco de medo começar um livro e é por isso que a cerimónia do início de um livro está cada vez mais longa, assim tenho mais tempo. Dá-me medo, porque parece-me que cada livro é uma aventura. Tenho que resgatar a história. Sinto que as personagens existem e que o meu trabalho é ouvi-las."

Para a autora, que já publicou 18 livros, as três primeiras semanas de um livro são terríveis: porque as personagens não estão definidas, a história não tem forma. Nessas primeiras semanas sente que não sabe nada, que não aprendeu nada, é como se estivesse a percorrer uma montanha e não conseguisse chegar ao topo.

Pernas que voam

Humberto Werneck lembra que num dos livros de Isabel Allende uma personagem perde uma perna, mas no livro seguinte a mesma personagem reaparece e já tem duas pernas. "Uma perna andou voando por aí", ri-se a chilena. "Um crítico literário espanhol escreveu que isto era realismo mágico." E as gargalhadas ecoam pela Tenda dos Autores. 
Quando escreve ficção, fá-lo sempre em espanhol, apesar de viver nos EUA e essa ligação à sua língua original é mantida não só através das cartas da mãe, mas também da leitura de poesia de Neruda. Na quinta-feira, ao final da tarde em Paraty, Isabel Allende contou também como conheceu o seu marido.

Estava a fazer uma tournée de apresentação do seu terceiro ou quarto livro nos Estados Unidos, quando conheceu William, "o último heterossexual solteiro da Califórnia, aquele senhor [aponta para o marido na sala]. Divorciado duas vezes, ele tinha lido o meu livro e convidou-me para jantar. E começou a contar-me a história da sua vida e eu apaixonei-me por essa história, é por isso que eu costumo dizer que o ponto G está na orelha." Ouvem-se mais risos por toda a sala.

"Eu tinha-me divorciado recentemente e estava a viver em castidade, mais ao menos há umas três semanas, pensei que poderia ter uma aventura de uma noite com aquele senhor e acabar de ouvir a história." Mas ele não terminou a história naquela noite. "Quando voltei à Venezuela, o meu fi lho de 20 anos esperava-me no aeroporto e disse-me: ‘Mamã, passa-se alguma coisa? Estás diferente.' Eu disse-lhe que estava apaixonada. Eu tinha 45 anos e ele perguntou: ‘Na tua idade?' Então voltei à Califórnia para passar uma semana com William, para ver se o tirava da cabeça, e assim estou há 23 anos a ver se ele acaba de contar a história." Quando se vêem os dois a passear por Paraty, percebe-se que ainda não acabou.

 

Via Público

13
Jun10

Young Mandela. História secreta do herói infiel, autoritário e violento

olhar para o mundo

Young Mandela, a história por trás do homem

 

"Como pode um homem que cometeu adultério e abandonou a mulher e os filhos ser Cristo? O mundo inteiro gosta demasiado do Nelson. Ele é apenas um homem." Quando a libertação do símbolo da luta anti-apartheid na África do Sul foi descrita como a segunda descida de Cristo à Terra, em 1990, a indignação de Evelyn Mase, a enfermeira que levou Nelson Mandela ao altar pela primeira vez, passou despercebida. Ao procurar o verdadeiro Mandela, David James Smith, jornalista do "Sunday Times", percebeu que parte da história - contada na sua autobiografia "Long Walk to Freedom", publicada no ano em que se tornou o primeiro presidente negro da África do Sul (1994) - tinha sido voluntariamente omitida. Atrás do mito, havia um homem mulherengo, infiel, distante dos filhos, autoritário e para quem a violência doméstica não era um tabu. 

"Young Mandela" chegou ontem às livrarias britânicas e conta a vida imoral de um dos mais carismáticos estadistas da história. "Nelson Mandela foi um revolucionário em muitos sentidos, mas não como marido nem como pai", escreve David Smith em dois excertos da obra pré-publicados no "Times". "O meu ponto de partida foi: aqui está o estadista mais velho do mundo, talvez o mais amado e admirado da história recente, mas cuja vida de jovem guerreiro, que lutou contra o racismo, foi esquecida. Mal cheguei a Joanesburgo [em Agosto 2008], encontrei pessoas próximas de Mandela que me disseram: ele não é um santo e não se considera santo, tem falhas e fraquezas como toda a gente, e é sobre o ser humano que deves escrever", conta ao i o escritor. Em três meses, Smith procurou falar com todos os que conheceram o Mandela "real" , o que não consta em nenhuma biografia.

filho secreto Na terra de Madiba, como é conhecido entre os sul-africanos, corriam rumores que teria tido um filho secreto com uma activista do Congresso Nacional Africano (CNA). Ruth Mompati era professora e decidiu reformar-se e juntar-se a Mandela quando o regime do apartheid considerou que os "nativos" não mereciam educação adequada. Com o gravador em off, Mandela "não negou o caso mas disse claramente que não existiu nenhum filho", conta Smith. Porém, o jornalista ouviu outros testemunhos credíveis e, quando os dois filhos de Ruth morreram, num espaço de apenas quatro meses, só a morte de um deles apareceu num comunicado do CNA: Neo Matsoane, o filho mais velho, nascido a 25 de Abril de 1955 e falecido a 7 de Janeiro de 1998, morreu asfixiado com a própria língua. Para Smith, era filho de Mandela. "Aparentemente era parecido com o pai."

santo infiel Mompati Neo Matsoane não seria o único rebento oculto de Mandela, que oficialmente teve seis filhos (quatro da primeira mulher e dois da segunda, Winnie). Amigos de longa data do estadista asseguram que gostava de mulheres bonitas e teve várias "namoradas". A cantora e actriz Dolly Raethebe - dez anos mais nova - terá sido mais uma das suas conquistas, revela Smith.

O verniz estalou quando a primeira mulher começou a desconfiar das infidelidades do marido. Quando exigiu que Ruth não voltasse a entrar na sua casa, "Mandela ficou furioso. Mudou a cama para o salão. Tornou-se cada vez mais frio e distante", confidenciou Evelyn Mase à autora da sua biografia, Fatima Meer.

Mandela nunca o negou: sabia que não era santo. "Isso foi uma das coisas que me preocuparam - ter ascendido à posição de semideus - pois daí para a frente a pessoa não é mais um ser humano", afirmou Nelson Mandela num dos célebres discursos. Na autobiografia, Mandela atribui o fim do casamento à devoção religiosa de Evelyn, testemunha de Jeová, que queria que Mandela fosse mais comprometido com Deus do que com a causa política anti-racista. 

Homem violento? É aqui que aparece a faceta mais inesperada do mito em "Young Mandela": a de agressor. No processo de divórcio a que David Smith teve acesso, Evelyn acusa Mandela de a ter abandonado em Fevereiro 1955 e, desde então, a ter "maltratado cruelmente e agredido repetidas vezes", inclusive com uma tentativa de homicídio por estrangulamento, o que a levou a procurar refúgio junto dos vizinhos. Reclamava a custódia das crianças, pensão e bens do casal. Mandela negou as agressões: tinha sido Evelyn a abandoná-lo quando foi detido após o histórico congresso em que divulgou os princípios da "Carta da Liberdade". Em Novembro 1956, Evelyn retirou--se do processo. Sem explicações. Ao i, Smith explica que "foi um arranjo de conveniência, com Mandela a tentar não tirar as crianças à mulher". "Estas alegações podiam ter sido politicamente inábeis no momento em que ganhava proeminência como líder da CNA." Verdade ou mentira, nas páginas da imprensa, seria certamente um escândalo.

Smith não confirma qual é a versão mais próxima da verdade, mas defende Mandela: "Muitos dos piores momentos ocorreram nos tempos de maior stresse, quando lutava contra a pobreza para sustentar a família e contra os educadores racistas que achavam que um homem negro não era apto para ser advogado de renome. Foi quando se envolveu profundamente na luta contra o apartheid, com prisão e perseguição policial à mistura. Nestas circunstâncias, a sua sobrevivência é um testemunho de grande coragem e dignidade."

O livro revela ainda relações muito tensas entre a primeira e a segunda família de Mandela, que é descrito como autoritário pela segunda mulher, Winnie. Condenava todas as acções do segundo filho Makgatho. "Era gélido [com os filhos]. Não é pessoa de dizer 'amo-te'. É um africano e mostrar sentimentos seria uma fraqueza que não pode demonstrar", conta no livro Ndileka, filha do primeiro herdeiro de Mandela - Thembi. Makgatho acabaria por morrer de sida. "Às vezes, é mais fácil mostrar-se para estranhos do que para os mais próximos. Pode ser um líder mundial, mas não pode segurar a mão do filho quando está a morrer ou abraçar a neta", diz Smith.

E mesmo que não tenha dado sinais de remorsos, o autor defende-o: a luta pela liberdade exigiu grandes sacrifícios a Mandela e a família pagou um preço elevado. Mandela fará 92 anos em Julho e, no Outono da vida, "incentiva os netos a explorar a história da família. Espero que o livro possa juntar as duas famílias e há sinais de isto estar a acontecer".

 

Via Ionline

06
Mai10

Falemos de striptease

olhar para o mundo

O striptease também se escreve

 

Bastet é apenas a mais recente stripper a aventurar-se no mercado editorial. Os livros deste novo género são úteis para quem tenha vergonha de ir a um clube de strip ou a um bar de alterne e queira saber como funcionam. Escolhemos aqueles que poderá encontrar mais facilmente nas livrarias. "Só Deus Me Julgará", de Bastet, e "Amanhã à Mesma Hora", de Leonor Sousa, falam do mundo dos clubes de strip. "Alugo o Meu Corpo", de Paula Lee, é um relato sobre prostituição num bar de alterne. 

São poucas as diferenças entre a Grécia e uma mulher em vias de entrar no mundo do striptease. O corpo é belo e admirado por todos, mas as dívidas são exorbitantes. A diferença é que, no caso das strippers, estar de tanga é parte da solução e não do problema. As garotas de programa vão mais longe. São uma espécie de Grécia que não só convida turistas mas também admite vender partes do território à Alemanha. Strippers e garotas também são um óptimo exemplo para a economia. Não basta reduzir a despesa, é preciso investir para depois ter retorno. Depilação, manicure, pedicure e roupas são investimentos avultados, mas as strippers têm de aparecer deslumbrantes perante os clientes ou fazem figura de Grécia perante os mercados: uma senhora com excesso de peso e buço, a quem é recomendado um plano rigoroso de emagrecimento. Depois de consertado o estado pessoal da economia, as senhoras tentam capitalizar o sucesso escrevendo testemunhos sobre os próprios casos. É uma receita idêntica à de João Rendeiro, só que o único sucesso deste foi um banco falido. Se continuarem a escrever a este ritmo, dentro de cinco anos a Feira do Livro estará a abarrotar de strippers, e clubes como o Champagne anunciarão espectáculos de Lídia Jorge e Gonçalo M. Tavares. No entretanto, surge um glossário muito particular desta área:

Arte Segundo Bastet, a arte do striptease não é devidamente apreciada pelos clientes. Depois de quatro whiskies ninguém fica em condições de ver, quanto mais de apreciar arte, a menos que os urinóis sejam inspirados em Duchamp. E por muito boa que seja uma obra de arte, expô-la ao som de Joe Cocker retira-lhe alguma dignidade.

Camarins Nos camarins o ambiente é de guerra fria. Há sempre uma heroína solitária contra uma cortina de ferro atrás da qual se escondem checas, russas e romenas. Quando Leila confidencia que, contra todas as regras, se envolveu sexualmente com um marine, nós percebemos. Ela não estava a ser ingénua, estava a pedir ajuda à NATO.

Clientes Bastet chama-os de "carneiros". Refere que o clube de strip onde trabalhava era frequentado por futebolistas, empresários e até um padre. São os maus da fita mas merecem a nossa simpatia. Se antigamente o maior risco que corriam era o de uma rusga policial que lhes estragasse a noite, agora podem acabar como personagens literárias. 

Crise Bastet fala do tempo em que as strippers podiam ganhar 75 euros por noite. E agora? Será que há clientes que levam champanhe em termos? Será que algumas raparigas, que nem sequer têm dinheiro para a roupa, são por esse motivo obrigadas a reduzir o espectáculo para metade?

Estreia O primeiro cliente de Paula Lee foi um homem de 90 anos. Ainda bem que há padres que frequentam estes ambientes porque nunca se sabe quando é que alguém vai precisar da extrema-unção.

Inícios Leila descobriu que queria ser stripper quando, por acaso, viu um show de strip num canal pornográfico e pensou que também podia fazer aquilo. No fundo é o que todos sentimos quando vemos o Hélder Postiga em campo. Na altura, Leila nem sabia o que era uma table dance. 

Bastet sempre quis ser bailarina e mostrar a alma, mas nem mesmo o elevado número de strippers russas transforma um clube de strip no Bolshoi. Um clube de strip em que as dançarinas mostrassem as respectivas almas não parece uma má ideia. O problema seria arranjar quem lhes fizesse a depilação.

A primeira experiência de Paula Lee no negócio do sexo foi no Sexphone, ainda no Brasil. Veio para a Europa, não só para um campeonato mais competitivo, mas também para um desporto diferente: alugar o corpo.

Nomes Num mundo de fantasia e erotismo estão proibidos nomes como Cesaltina ou Maria do Amparo. A stripper Bastet (pseudónimo) optou por Barbie Cinderela, um nome que só pode entusiasmar quem estiver à procura de uma boneca insuflável, de um travesti ou de ambos. Leonor Sousa, que no diário é Leila, escolheu como nome artístico Gabriela, de inspiração amadiana. Paula Lee (pseudónimo), transformou-se em Letícia. Quem pensa que a heteronímia pessoana é complexa, nunca leu estes livros.

Política A ideia de que as strippers não têm consciência política é errada. Bastet conta como não sentia qualquer remorso em sacar o que podia a políticos africanos. É verdade que também o fazia aos outros clientes, até aos que não sabiam soletrar a palavra "cleptocracia", mas sem a mesma carga de justiça poética. 

Show Lésbico Espectáculo através do qual as strippers contribuem para uma sociedade mais tolerante e menos preconceituosa, baseada no respeito pela orientação sexual de cada um. 

Títulos "Só Deus Me Julgará" é o equivalente ao futebolístico "o futuro só a Deus pertence". "Amanhã à Mesma Hora" também remete para o futuro, embora mais próximo, e com uma promessa de pontualidade que poderá confundir as mentes lusitanas. "Alugo o Meu Corpo" pode levar ao engano aqueles que esperam um ALD.

 

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23
Mar10

Mitos urbanos que tinham tudo para ser verdade, ou talvez não

olhar para o mundo

Mitos Urbanos

 

A noite vai avançada e o tema de conversa começa a faltar - os silêncios são constrangedores. Qual a melhor maneira de apimentar uma noite entre amigos? Sai um mito urbano para a mesa três! "Vocês já repararam que nunca se vê um funeral de um chinês? É muito estranho... Ouvi dizer que eles utilizam-nos para fazer chop-suey." Pode parecer conversa absurda mas assim nascem os boatos. 

A jornalista da SIC Susana André também ouviu muitas destas histórias e depois de fazer uma Grande Reportagem sobre o tema foi convidada a escrever um livro. Em "Mitos Urbanos e Boatos" vai encontrar desde histórias de infância às mais recentes. "Queria que o livro servisse para desmontar os boatos. Há mitos fantasiosos, que são um bocadinho como as histórias dos lobisomens. Mas outros servem para denegrir alguém, como a história da relação entre o cantor Melão e jogador Calado que foi terrível para as famílias e carreira dos próprios".

 

1 - Urina de rato nas latas mata
Os humanos têm um novo hábito desde 1998:_limpar as latas de refrigerante antes de beber. Tudo começou com um e-mail assustador:_“mulher bebe directamente de lata e morre”. Causa: a lata tinha urina de rato “tóxica e letal”. Mas calma. Como explica a jornalista Susana André essa tal mulher nunca existiu e a hipótese de isso acontecer é improvável. A urina de rato é perigosa para os humanos e pode causar leptospirose, mas nunca a podemos apanhar ao beber de uma lata. A bactéria que está na urina (leptospira), se for ingerida morre em contacto com o suco gástrico e para se manter “viva” tem de estar dentro de água.

 

2 - Chineses são imortais ou estão no meu chop-suey?

A história corre por toda a Europa: os chineses não morrem. Ou melhor, não há registo de óbitos de cidadãos chineses. Há até quem acrescente o pormenor: “Eles são desmembrados nas cozinhas dos restaurantes, cozinhados e servidos em chop-suey”. “É fácil comprovar que é tudo mentira. Quando os chineses começam a ficar doentes, regressam à China onde querem morrer. Mesmo quando morrem em Portugal, preferem ser enterrados no seu país. Entre 2000 e 2005, morreram 33, número normal para as comunidades de imigrantes.”

3 - Mamas explosivas

“Isso das mamas de silicone é um perigo. Não se pode andar de avião, se não explodem.” Conversa perfeita para um cabeleireiro, mas não passa de um mito. Existe de facto uma hospedeira cujos implantes explodiram a bordo de um avião, mas não há uma relação de causa-efeito entre silicone e despressurização. Como explicou Victor Garcia, presidente da Sociedade Espanhola de Medicina e Cirurgia Cosmética, “o mais normal é que se tenha tratado de um defeito de fabrico, que tanto se podia ter manifestado num avião como em casa.”

 

4 - “Ligue para o 112, acabamos de lhe tirar um rim”

A noite está a correr bem e a loira ao balcão não tira os olhos de si. Começam a conversar e acabam num quarto de hotel. Quando acorda está dentro de uma banheira, tem uma cicatriz nas costas e uma mensagem:_“Se queres viver, liga para o 112 e não saias da banheira”. “Os mitos urbanos têm como base preconceitos e os grandes medos da sociedade. Histórias de pessoas que acordam sem órgãos são universais”, diz Susana André. Há várias versões do mito: da mulher sedutora que o droga, à carrinha branca que andava pelas escolas, passando pela casa-de-banho do Kremlin. Parece que a Máfia Russa recrutava rins na discoteca lisboeta. A verdade é que a polícia nunca recebeu uma queixa. Como refere a jornalista, a Organs Watch explica que os traficantes de órgãos escolhem países pobres.

 

5 - Carlos Paião foi enterrado vivo 
Quem nunca ouviu o boato de que Carlos Paião foi encontrado virado no caixão depois de o ter arranhado não deve ter andado em Portugal nos últimos 20 anos. O mito de que o cantor de “Playback” tinha sido enterrado vivo era contado em cafés como um facto. “É uma história chocante e foi com relutância que contactei a viúva de Carlos Paião. Ela explicou-me que o corpo tinha sido autopsiado e que nunca ninguém abriu o caixão”, diz ao i Susana André.

 

6 - Os ratos gigantes de Mafra 
Os ratos têm o tamanho de um coelho, ocupam os quatro andares subterrâneos do Convento de Mafra e são alimentados por dois militares. Ah! E comeram um homem. Este mito é o equivalente aos crocodilos que vivem nos esgotos nova-iorquinos, numa versão menos exótica, sem tartarugas-ninja. A verdade é que é raro o visitante que vá a Mafra e não pergunte pelos ratos. Vamos desmontar o mito por fases: não há quatro andares subterrâneos, apenas um. Existem ratos nos esgotos, mas ainda há pouco tempo a responsável pelo palácio fez uma visita ao local e viu apenas um, como nos conta Susana André. Quanto ao homem devorado por um super-rato, a história tem uma origem verdadeira. O Capitão Álvaro Campeão, da Escola Prática de Infantaria, instalada no convento, conta que um soldado caiu no esgoto e morreu da queda. Como foi encontrado dias depois com sangue e uns ratitos por perto, a dedução lógica foi: os ratos atacaram-no. Mentira.

 

7 - McMinhoca Deluxe ou Big McMinhoca?
A fórmula secreta dos hambúrgueres do McDonald’s é quase tão falada como a da Coca-Cola. O sabor inalterado e a invasão planetária da cadeia de fast food deve ter enervado algumas pessoas, o que terá originado o mito de que eram feitos de minhocas. A jornalista Susana André esteve na fábrica da empresa, em Toledo, Espanha, e comprovou que não havia minhocas. “Vi a carne de vaca a ser triturada, prensada e a saírem os hambúrgueres.”

 

8 - Há sida nos telefones?
Ainda há quem tenha muito cuidadinho ao mexer em telefones públicos. Nos idos anos 90, a história de rapariga que se sentou numa cadeira de cinema e picou-se numa agulha com o papel: “Bem-vindo ao mundo real. Agora tens sida” correu o mundo. Seguiram-se as cabines telefónicas. Não vamos sequer responder à pergunta: “Por que raio é que alguém ia fazer isso?” A ciência vem em defesa da verdade: “o HIV é um vírus sensível ao meio externo e sobrevive apenas alguns minutos fora do corpo”.

 

9 - Ricky Martin no armário 
Reza a história que o programa “Sorpresa, Sorpresa” convidou Ricky Martin para surpreender uma fã. Puseram-no no armário da jovem e esconderam as câmaras. Ela chegou a casa e chamou o cão. Mas não era para lhe fazer apenas umas festinhas... O boato dizia que a jovem terá colocado foie gras nas partes íntimas e enquanto o cão a lambia, Ricky Martin via tudo do armário. Ela foi apanhada em flagrante pela produção e semanas depois do escândalo suicidou-se. O boato não se ficou por Espanha mas não passa disso mesmo. O realizador do programa prometeu cinco mil euros a quem lhe apresentasse uma imagem que fosse. Ninguém reclamou o prémio. Ricky Martin também desmentiu a história e disse que nem estava no país na altura.

 

10 - Tatuagens do He-Man têm LSD
As crianças dos anos 70 e 80 sofreram o mesmo trauma: a dupla vida das tatuagens de colar. Se por um lado eram a forma mais simples de ascender na hierarquia social do recreio, por outro, ter o He-Man colado no braço era um risco para a saúde. Os pais proibiram as tatuagens depois do comunicado do “17º Batalhão da Polícia Militar”. Assunto: “Tatuagens de heróis infantis estão a ser vendidas nas escolas e estão impregnadas em LSD.” Como Susana André descobriu, a existência de um grupo de traficantes interessado em tornar dependentes de uma droga tão cara clientes que “só têm orçamento para o vício dos chupa-chupas” nunca existiu. O boato regressou em 2002 e a polícia esclareceu que o tal batalhão militar nunca existiu e que não há registo de casos com essas tatuagens em Portugal nem no resto da Europa. Adultos frustrados, corram para os quiosques!

 

Via Ionline

20
Mar10

Os melhores sítios para ler fora de casa

olhar para o mundo

Os melhores sítios para ler fora de casa

 

01 Quintal Bioshop 


Num quintal normal, e para quem tem a sorte de o ter, pode haver uma pequena horta, flores e, quem sabe, um espaço para churrascos. No quintal mais famoso do Porto, o Quintal Bioshop, há uma mercearia biológica, uma loja de produtos ecológicos e de cosméticos naturais, workshops e encontros, uma cafetaria bio e ainda uma esplanada com wi-fi. Procure um lugar no meio das árvores e peça uma fatia de bolo de chocolate e romã antes de abrir um livro. 

Rua do Rosário, 177, Porto, 222 010 008. Segunda a sexta das 10h30 às 20h00, sábado das 15h00 às 20h00

02 Espaço Fábulas

O livro a levar bem podia ser "Ali Babá e os Quarenta Ladrões" ou "As Mil e Uma Noites", porque o Fábulas, em Lisboa, tem qualquer coisa de caverna encantada (e até tem uma tosta chamada Sheherezada, com queijo brie e espinafres, uma delícia). Entra-se e o chão é de pedra, as paredes são de pedra, e em cada recanto há uma mesa, uma poltrona ou até uma velha máquina de costura a convidar à conversa ou à leitura. Dirija-se à sala para não fumadores e escolha o sofá por baixo das fotografias da Beatriz Costa - provavelmente o recanto mais confortável de Lisboa. Se quiser até pode ir sem material de leitura, porque livros e imprensa do dia são coisa que não falta por aqui.

Cç. Nova de São Francisco, 14, Lisboa, 213 476 323. Segunda a quarta das 10h00 às 24h00, quinta a sábado das 10h00 à 01h00 e domingo das 11h00 às 19h00.

03 Esplanada do Farol Design Hotel 

Mais perto do mar é impossível. E mais confortável que num dos sofás brancos de Gandia Blasco também. Na On the Rocks, a esplanada do Farol Design Hotel, os livros têm dois sérios concorrentes: a vista e o sol. Mas experimente levar qualquer coisa de acordo com a atmosfera e a bossa nova que passa baixinho ou as caipirinhas que saem do bar: um dos romances de Chico Buarque, por exemplo, ou um Rubem Fonseca. 

Farol Design Hotel, Av. Rei Humberto II de Itália, 7, Cascais, 214 823 490. Das 10h30 à 01h30

04 Maria Vai com as Outras 

Não se podia falar dos melhores sítios para ler sem falar de uma livraria, mas a Maria Vai com as Outras, no Porto, não é uma livraria qualquer. Tem alguns livros para venda, sim, mas também é café, bar, casa de chá, loja de artesanato, galeria e sala de concertos. Entre as suas paredes coloridas a regra é conviver ou aproveitar o ambiente calmo e amigo dos livros, do cinema e da arte (todos os espaços amigos dos livros têm um gato, e a Maria Vai com as Outras tem). 

R. do Almada, 443, Porto, 220 167 379. Todos os dias das 16h30 às 20h30 e das 22h30 às 24h00

05 Jardins do Museu do Traje e da Moda

Há momentos em que parece Sintra, com árvores centenárias impossíveis de abraçar e estátuas e escadarias de pedra que vão dar a lagos com nenúfares. Há momentos em que se estendem pomares e prados e não se percebe se o jardim tem um fim. E há alturas em que parece que estamos dentro da série "Perdidos", com ervas e mato de todos os lados. Os jardins do Museu Nacional do Traje e da Moda, no Lumiar, são uma espécie de segredo de Lisboa, onde não falta sequer uma cascata. Situado na Quinta do Monteiro-Mor e partilhado com o Museu do Teatro, o parque conta com vários bancos à sombra ou ao sol, de madeira ou de pedra, perfeitos para ler um romance histórico ou um clássico como "Os Maias" ou "O Monte dos Vendavais". 

Largo Júlio de Castilho, Lisboa, 217 590 318. Terça das 14h00 às 18h00, quarta a domingo das 10h00 às 18h00 (última entrada às 17h30). €2 só o jardim, grátis aos domingos até às 14h00

06 Esplanada do Museu Nacional de Arte Antiga 

A esplanada do Museu Nacional de Arte Antiga é uma das candidatas ao título de esplanada mais tranquila de Lisboa, e a sua atmosfera é perfeita não só para ler mas até para escrever. Com o rio de um lado e obras-primas como "As Tentações de Santo Antão" de J. Bosch do outro, o sossego da atmosfera é o ideal para conseguirmos desligar-nos da cidade e perder- -nos num livro. O restaurante funciona em self-service e fora das horas de refeições - as ideais para ler - serve também saladas, crepes e quiches. 

Rua das Janelas Verdes, Lisboa, 213 912 800. Terça das 14h00 às 18h00, quarta a domingo das 10h00 às 18h00
 

19
Mar10

Como criar uma biblioteca sem gastar um tusto

olhar para o mundo

Roubar livros é fácil?.. pelos vistos sim

 

Renault Express não chegou. Foi preciso uma Ford Transit - com uma bagageira que consegue transportar quatro pessoas deitadas - para Antero Braga, ex-administrador da Bertrand, recuperar os livros que o professor disfarçado de cliente fiel lhe roubara durante vinte anos. Um mês depois de a livraria do Chiado ter instalado o sistema de alarmes, à passagem do insuspeito professor da Escola de Belas Artes, com conta corrente na loja, o alarme disparou. Mal sabia Antero Braga que acabaria por ganhar o dia: quando a carrinha estacionou à porta, carregada com mais de mil livros roubados, percebeu que tinha recuperado o dinheiro investido nos alarmes. 


Um milhar de livros roubados nem sequer chega a ser recorde. Nos anos 70, o mais famoso ladrão entre os livreiros do Chiado, conseguiu construir uma biblioteca ainda maior: 30 mil volumes. Só precisou de se disfarçar de padre e de uma batina com um forro falso. 

As carreiras dos livreiros estão recheadas de flagrantes improváveis: um disfarçado de padre, um padre a sério, um disfarçado de coxo, munido de muletas.

Antero Braga, actual proprietário da livraria Lello, adianta que por ano são roubados "uma centena de livros" na livraria portuense. José Pinho, da Ler Devagar, aponta para 20 livros roubados por mês. A Bertrand do Chiado só num fim-de-semana viu desaparecer 18 exemplares do mesmo livro. A Almedina suspeita que a taxa de furtos seja semelhante à dos EUA - onde os roubos representam "1,7% do volume de vendas". Jaime Bulhosa (Pó dos Livros) explica a quebra aos leigos dos números: "Por cada livro roubado, tem de se vender três livros iguais só para cobrir o prejuízo."

Há os ladrões profissionais - que roubam para vender -, os amadores - que roubam um livrinho por ano - e até os VIP. "É muito comum apanhar figuras públicas. E o mais vergonhoso ainda é o que roubam. Já vi de tudo, até as anedotas do Herman", conta Jaime Bulhosa. 

O volume dos livros nem intimida os ladrões. Pelo contrário: os calhamaços até são os preferidos: "2666", o mais roubado na Bertrand em 2009, tem mais de mil páginas. Na mesma loja, já roubaram o dicionário Houaiss - três volumes que pesam 11 quilos. A Bíblia - pecado dos pecados - é um dos mais roubados de sempre. José Pinho (Ler Devagar) perseguiu "um ladrão pela baixa de Lisboa durante uma hora", até dar com os cinco volumes das obras completas de Jorge Luís Borges no caixote do lixo. 

Os bestsellers lideram o top de roubos. Os livros mais caros também são apetecíveis e os livreiros optam por tê-los debaixo de olho - atrás ou à frente do balcão. Mas há quem roube os títulos mais improváveis. Jaime Bulhosa diverte-se a contar no blogue da Pó dos Livros a sua investigação a um misterioso ladrão culto. "Desconfiamos que seja a mesma pessoa, porque só rouba poesia e música erudita." E há ainda ladrões que quando escolhem os livros gostam de deixar a sua assinatura. "Sinto Muito" e "Código Penal" lideram as listas que imploram perdão. 

 

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