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Um olhar sobre o Mundo

Porque há muito para ver... e claro, muito para contar

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Um olhar sobre o Mundo

15
Dez10

Afinal existem ciganos gays... e?

olhar para o mundo

Vídeo corre na Web há apenas cinco dias mas já tem mais de 70 mil visitas. Dois ciganos "ainda por cima gays" tornaram-se piada nacional. Porquê?

 

Dois rapazes, ciganos, com trejeitos supostamente efeminados, revelam às câmaras da SIC a sua indignação por uma operação policial levada a cabo recentemente no Martim Moniz, em Lisboa. Isto podia ser uma simples peça jornalística de hora de jantar, mas transformou-se num verdadeiro circo cuja piada, confesso, ainda não consegui perceber lá muito bem.

 

"Afinal existem bichas ciganas", diz o título do vídeo, que se transformou num espaço de bate-boca no YouTube. "Além de ciganos, são bichas. Só qualidades", diz outro. E ser-se grosseiro, pergunto eu... será também uma qualidade?

Custa-me a entender esta excitaçãozinha toda por dois ciganos supostamente serem gays. Será a orientação sexual algo restrito? Eu diria que não. Seja branco, preto, amarelo, cigano, cada um é o que é.

Riso fácil para matar frustrações?

Troça-se dos gordos porque os distúrbios alimentares são hilariantes... Troça-se dos coxos porque também tem um piadão ver alguém a mancar pela rua fora. Troça-se dos pretos porque são escuros e deviam ser todos mandados de volta para África, mesmo que tenham nascido em Portugal. Troça-se dos ciganos porque serão sempre os "Lelos" que vendem nas feiras. Troça-se dos homossexuais porque, "coitados", não são homens a sério. Troça-se porque sim. Porque o riso fácil está ali mesmo à mão, enquanto a sensatez fica lá fora, escondida num qualquer recanto perdido da educação.

Não sou hipócrita ao ponto de dizer que nunca cedi ao riso fácil. Claro que sim. Mas, cada vez mais, paro para observar à minha volta e vejo que a frustração por vidas cinzentonas leva as pessoas a um azedume que desconhece a palavra limite. Lamento, mas perco a vontade de rir.  Preferia o tempo em que se ia à bola para poder gritar ofensas à mãe do árbitro e voltar para casa mais aliviado dos níveis de stresse.

Quanto ao vídeo, orientações sexuais à parte, para mim a verdadeira piada está no comentário final dos dois miúdos (que, desculpem lá, para "minores" me parecem bem grandinhos). Alguém informe estes rapazes que, a partir dos 10 anos, é obrigatório ser portador de um bilhete de identidade e que aqueles DVD que têm nas mãos (em plena entrevista televisiva!) talvez não abonem muito a favor deles se se cruzarem com os senhores da ASAE...

22
Set10

Imaginam Cavaco Silva a expulsar ciganos de Portugal?

olhar para o mundo

Não. Claro que não. Até porque no dia seguinte a anunciar uma medida deste género o Palácio de Belém ia parecer um stand da Ford, com tanta carrinha Transit estacionada. Mas atenção aos perigosos sinais que estão a ser dados.

 

O que mais estranheza causou na medida xenófoba deste petit president, um ser bizarro com tiques Napoleónicos e aparentemente uma asa de extrema-direita, foi a aparente passividade com que os ciganos abandonaram de facto o país. Que Sarkozy era má rés não restavam grandes dúvidas. Que a Alemanha vai aproveitar a deixa e fazer o mesmo, poucas restam. Agora o que raio se passa com os ciganos?

Quando li pela primeira vez que o Presidente Francês tinha esta intenção pensei que jamais passaria disso mesmo. Não que a vontade deste viesse a mudar. Julguei apenas que seria forçado a mudá-la. Isto porque na minha cabeça imaginei o que aconteceria se passasse pela cabeça do Presidente português (com o apoio do Governo obviamente, dado que em França o poder é partilhado) ter a mesma atitude, tomando as mesmas medidas. Caos.

Coitado. No dia a seguir tinha os ciganos todos do país estacionados nos jardins do Palácio de Belém. Porque digam o que quiserem mas não conheço povo mais solidário do que este. Um vai para o hospital, o clã segue-lhe o rastro. Montam o acampamento à porta e só de lá saem quando o doente recuperar. Já os vi acampados numa rotunda, sentados em mesas de plástico a grelharem febras em assadores e a estender a roupa num outdoor do Paulo Portas.

Ao segundo dia Cavaco Silva faria uma declaração ao país da parte de trás de uma Transit no meio de uma montanha de edredões e jogos de cama a dizer que tudo não tinha passado de uma brincadeira.

Na revolta unem-se, não costumam perdoar, emudecer ou fraquejar. Normalmente com resultados violentos. Daí o espanto com que assisti ao desenrolar dos acontecimentos em França. A aparente passividade do acto. A revolta calada. Uma resignação ensurdecedora.

Os ciganos, muitas vezes acusados de falta de civismo e desordem, tiveram um comportamento em França que só consigo equiparar ao que vejo em documentários sobre a II Guerra Mundial, quando milhões de Judeus, e no meio deles milhares de ciganos, foram deportados, contra sua vontade, desesperados mas em fila, revoltados mas ordenados até acabarem amontoados num vagão sujo e frio a caminho da tortura e morte. Só por serem Judeus. Só por serem ciganos. Tudo isto aconteceu. E parece não ter servido de lição. Outros tempos. Métodos diferentes. Politicas com outros nomes. Comportamentos assustadoramente semelhantes.

Enquanto escrevia estas palavras votava-se no parlamento português um protesto contra as medidas tomadas por Sarkozy. Toda a direita e o PS (de quem já ninguém espera nada), salvo raras e honrosas excepções, votaram contra. Preferiram esperar e andar a reboque da UE e das suas deliberações, como lacaios sem vontade e identidade própria, sem orgulho ou humanidade, a terem a coragem de repudiar a atitude do chefe de Estado francês em relação ao povo cigano.

Senti vergonha de ser português. Senti vergonha de ter no meu país um Governo e uma classe política que na sua grande maioria agiu de uma forma profundamente cobarde e serviçal. E se para ser europeu é preciso ser isto, prefiro ser só português.

 

Via Sem Reféns

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